PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Helena
Maria Ferreira
O
presente artigo é uma pesquisa científica com bases teóricas acerca das
dificuldades de aprendizagem e a intervenção psicopedagógica, buscando caminhos
para compreender as formas de aprendizagem e meios para sanar essas
dificuldades, tornando o educando uma pessoa mais feliz.
A
partir dos anos de 1980, a Psicopedagogia veio resgatar uma visão mais
abrangente e globalizante do processo de aprendizagem humana e os problemas
decorrentes desse processo.
Não
é fácil encontrarmos uma definição completamente clara e abrangente para
explicar o que é “problema de aprendizagem”.
Segundo
Sara Pain (1992, p.11), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão
da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação.
E
à educação atribuímos quatro funções interdependentes: função mantenedora,
função socializadora, função repressora e função transformadora. Sendo assim, o
sujeito que não aprende, não realiza essas funções da educação. A
psicopedagogia é a técnica de condução do processo de aprendizagem, levando a
cumprir os fins educativos.
As
perturbações da aprendizagem são aquelas que interferem nesse processo de
aprendizagem impedindo ao sujeito usufruir de suas possiblidades cognitivas.
Nas
dimensões do processo de aprendizagem observamos que o conhecimento é adquirido
na formação hereditária, de acordo com o meio onde se vive e por meio de
experiências vividas. E nessas três dimensões se completa a aprendizagem
humana.
De
acordo com alguns estudiosos, a aprendizagem humana é um processo integrado que
provoca a transformação qualitativa na estrutura mental do sujeito que aprende.
O ser humano já nasce com potenciais de aprendizagem e necessitam de estímulos
internos e externos para o aprendizado.
O sujeito e o objeto não são
dados como instâncias originariamente separadas. Pelo contrário, eles se
discriminam justamente em virtude da aprendizagem e do exercício. À medida que
exerce sua atividade sobre o mundo, o bebê pode construir apesar das
transformações, objetos permanentes, entidades diferentes dele e idênticas a si mesmas; por outro lado, tal atividade o
define como agente e o determina, em primeiro lugar, pelo seu poder, como capacidade
de ação. Portanto, podemos falar de condições externas e internas da
aprendizagem apenas no sentido descritivo, já que nem sua genética na ação nem
seu funcionamento dialético permitem a adoção do esquema estímulo-resposta que
tal dicotomia sugere. (Pain, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de
Aprendizagem. Ed. Artes Médicas; Porto Alegre. 1992, p.21).
O
problema de aprendizagem é considerado um sintoma, sendo que, não é um quadro
permanente, podendo ser passível de transformação.
Podemos
definir alguns fatores que interferem na aprendizagem que devem ser
considerados no diagnóstico. São eles:
·
Fatores orgânicos;
·
Fatores específicos;
·
Fatores psicógenos;
·
Fatores ambientais.
a) Os
fatores orgânicos (fatores fisiológicos) - Estes sistemas são ligados ao
sistema nervoso central. Quando sadio, possui ritmo, plasticidade e equilíbrio,
garantindo harmonia nas mudanças. Porém, quando há lesões ou desordens
corticais comprometendo assim, a aprendizagem (apraxias, afasias, certas
dislexias).
b) Fatores
específicos – Estão intimamente ligados na área perceptivo-motora, e na
lateralidade do sujeito. Esses transtornos aparecem no nível da aprendizagem da
leitura e da escrita. Nestes casos o tratamento psicopedagógico alcança êxito,
desde que seja diagnosticado corretamente esse transtorno de aprendizagem que
se denomina como dislexia (dificuldade para aprender ler e/ou escrever).
c) Fatores
psicógenos - Ligados à estruturação da
formação da personalidade (Id, ego e superego). O fator psicógeno do problema
de aprendizagem pode ser confundido com sua significação e o não aprender é
constituído como inibição ou como sintoma. Um exemplo de problema de
aprendizagem ligado a esse fator é a disortografia.
d) Fatores
ambientais – Estímulos que constituem a aprendizagem e o meio ambiente material
do sujeito. O problema de aprendizagem se apresenta de acordo com a ideologia e
valores do grupo ao qual está inserido.
À
luz de várias contribuições, de diversas áreas do conhecimento como a
Psicologia, Linguística, Psicolinguística, Sociologia, antropologia, a
Psicopedagogia encontra diferentes abordagens para os problemas de
aprendizagem.
Podemos
destacar a contribuição de Emília Ferrero, seguidora do pensamento piagetiano,
buscando novos caminhos e olhares para o entendimento da leitura e da escrita.
Ela ainda contribui com as teorias desafiadoras de transformar o espaço de
aprendizagem em um espaço construtivista. Onde, os “erros dos alunos” são
transformados em objetos de construção do conhecimento.
Não
desconsiderando o valor real dos testes diagnósticos de alguns problemas de
aprendizagem, uma vez que Vygotsky através da teoria da zona proximal, onde o
ambiente social das crianças é considerado e essa concepção, passa a ser um
momento privilegiado no processo de desenvolvimento da criança. E podemos
assim, apostar nas capacidades das crianças, considerando mais suas qualidades
do que seus defeitos.
Visca
(1991) concebe a aprendizagem como um processo com a interferência de aspectos
emocionais, cognitivos, biológicos e sócias. Para ele, existem níveis de
aprendizagem que iniciam com o nascimento e se estendem até à morte. Esses
níveis são denominados: proto-aprendizagem, dêutero-aprendizagem, aprendizagem
assistemática e aprendizagem sistemática.
a) Proto-aprendizagem
– Caracteriza-se pelos primeiros contatos com a mãe.
b) Dêutero-aprendizagem
– Caracteriza-se pelas relações da criança com os objetos e ambiente que a
rodeiam.
c) Aprendizagem
assistemática e aprendizagem sistemática – Caracterizam-se pelas interações do
indivíduo com a sociedade e com as instituições educativas.
Para
Pain (1985), a aprendizagem depende da articulação de fatores internos e
externos ao sujeito. De acordo com a autora a aprendizagem apresenta três
funções: socializadora, repressiva e transformadora.
a) Função
socializadora – Submete-se às normas e regras identificando-se com o grupo
social ao qual pertence.
b) Função
repressiva – Garantindo-se em sobrevivência ao sistema que rege a sociedade.
c) Função
transformadora – Permite ao sujeito uma participação na sociedade, na
perspectiva de transformá-la.
Visca
e Pain oferecem valiosas contribuições à Psicopedagogia por apresentarem uma
concepção mais completa e abrangente do ser humano, evidenciando a necessidade
multidisciplinar na ação psicopedagógica.
O
processo de aprendizagem na abordagem de Piaget, com a teoria da equilibração,
trata de maneira trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a
acomodação. Considerado como um mecanismo regulador que assegura a interação
eficiente do sujeito com o meio ambiente.
Piaget
(1975) define que, o equilíbrio cognitivo implica afirmar a presença necessária
de acomodações nas estruturas do cérebro. No processo de desenvolvimento, tal
como é visto por Piaget, cada criança se desenvolve através de estágios. O
autor distingue três estágios fundamentais:
a) Sensório motor – que vai do nascimento até os 2 anos de idade. Sendo que neste estágio a criança evolui no entendimento do mundo exterior em relação a si própria.
b) Operações concretas – estende-se dos 2 aos 11 anos de idade e subdivide-se em pensamento pré-operacional (de 2 a 7 anos) e pensamento operacional concreto. Concretiza-se na preparação e na realização das operações concretas em classes, relações e números.
c)
Operações formais – de 11/12 até 14/15 anos. Período no qual o adolescente
ajusta-se à realidade completa de sua atualidade, tornando-se capaz de lidar
com o mundo das possibilidades.
Os períodos ou estágios da teoria de
Piaget não constituem divisões arbitrárias do processo evolutivo. Cada um deles
possui características mínimas que o define.
A teoria de aprendizagem de Jean Piaget alertou os educadores para o respeito ao estágio de desenvolvimento do pensamento infantil, adequando as atividades escolares às características evolutivas das crianças.
A teoria de aprendizagem de Jean Piaget alertou os educadores para o respeito ao estágio de desenvolvimento do pensamento infantil, adequando as atividades escolares às características evolutivas das crianças.
Os
interacionistas Jean Piaget e Lev Vygotsky se tornaram expoentes referenciais
na Pedagogia contemporânea.
Piaget
acredita que a aprendizagem se dá através do desenvolvimento, minimizando o
papel de interação social e Vygotsky privilegia o ambiente social como fator de
desempenho da aprendizagem, apesar de acreditar que a construção do
conhecimento e o desenvolvimento também têm participação no processo de
aprendizagem.
Para Vygotsky, a cultura molda o psicológico, determinando a maneira de pensar do sujeito. Pessoas de diferentes culturas têm diferentes perfis psicológicos. As funções psicológicas de uma pessoa são desenvolvidas ao longo do tempo e mediadas pelo social, através de símbolos criados pela cultura. A linguagem representa a cultura e depende do intercâmbio social. Os conceitos são construídos no processo histórico e o cérebro humano é resultado da evolução. As aprendizagens são construídas e internalizadas de maneira não linear e diferente para cada pessoa, onde o cotidiano está sempre em movimento e em transformação.
De acordo com Ferreiro, imaturidade,
prontidão, habilidades motoras e perceptuais deixam de ter sentido
isoladamente. Os aspectos motores, cognitivos e afetivos são importantes, à
medida que são tratados no contexto da realidade sócio cultural das crianças. “Hoje a perspectiva construtivista
considera a interação de todos eles, numa visão política, integral, para
explicar a aprendizagem” diz Ferreiro.
As dificuldades de aprendizagem
mais comuns são: a dislexia a disgrafia, a discalculia, a dislalia, a
disortografia e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
a) Dislexia:
é a dificuldade que aparece na leitura. A criança faz trocas ou omissões de
letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, apresentando dificuldades
para ler um texto fluentemente. Estudiosos afirmam a dislexia é causada por
fatores genéticos, mas, ainda não foi comprovado pela medicina.
b) Disgrafia: geralmente vem associada à
dislexia, porque a criança faz trocas e inversões de letras e consequentemente
encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal
traçadas e ilegíveis e apresenta desorganização ao produzir um texto.
c) Discalculia: é a dificuldade para cálculos e
números. Geralmente os portadores dessa dificuldade não identificam os sinais
das quatro operações e não sabem usá-los. Não compreendem os enunciados de
problemas, não conseguem quantificar, comparar e consegue fazer sequências
lógicas. Esse problema é um dos mais complexos e mais difíceis de diagnosticar.
d) Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresentando
pronúncia errada das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as
confusas. É uma dificuldade mais manifestada em pessoas com problemas no
palato, flacidez na língua ou lábio leporino.
e) Disortografia:
é a dificuldade na linguagem escrita e também pode manifestar-se como
consequência da dislexia. As principais características da disortografia são:
troca de grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação
indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação
e acentuação.
f)
TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, manifestando sinais
evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. É
comum vermos crianças e adolescentes sendo rotulados como hiperativos. Por
isso, é importante que esse diagnóstico seja feito por um médico neurologista e
outros profissionais.
E
ao decorrer das pesquisas, em uma abordagem geral, podemos traçar o somatório
de todos os fatores que influenciam a aprendizagem, abrindo um leque de
possibilidades de estudo para se diagnosticar os problemas de aprendizagem.
E
dentro da visão acadêmica atual, podemos classificar essas dificuldades de
aprendizagem nos fatores: biológicos, sociais, psicológicos e fatores
pedagógicos. E que cada um desses fatores é objeto de estudo de cada uma dessas
áreas. Dá-se então, a importância de cada especialista para o atendimento da
criança com dificuldades de aprendizagem.
Cada
pessoa é única. Cada vida tem sua própria história. É preciso conhecer a
criança e como ela aprende. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças,
intervindo diante das queixas da escola, trabalhando com os erros e acertos,
resgatando o desejo de aprender.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. FERREIRO,
Emilia & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese
da Língua Escrita. Artes Médicas, Porto Alegre, 1986.
2. FERREIRO,
Emilia. Alfabetização em Processo. Ed. Cortez. São Paulo. SP.
3. FERNANDEZ,
Alicia. A Inteligência Aprisionada.
Ed. Artes Médicas. Porto Alegre.
4. SCOZ,
Beatriz. Psicopedagogia e Realidade
Escolar – o problema escolar e de
aprendizagem. Ed. Vozes. Petrópolis, 1994.
5. PAIN,
Sara. Diagnóstico e Tratamento dos
Problemas de Aprendizagem. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1994.