terça-feira, 27 de agosto de 2013
IMPORTÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO
Helena Maria Ferreira
RESUMO
A presente pesquisa fundamentada
em autores que estudaram a aprendizagem humana e a Psicopedagogia como uma área
do conhecimento tem como objetivo apresentar a importância do psicopedagogo no
desenvolvimento do aprendente, a partir das possibilidades de intervenção do
Psicopedagogo diante das dificuldades específicas que ele apresenta. Nessa pesquisa pode-se concluir que, o Psicopedagogo
atuando com um olhar diferenciado e escuta aberta às queixas das famílias e
professores pode fazer muita diferença no desenvolvimento do educando. Assim
sendo, o Psicopedagogo tem um importante papel na vida da criança ou indivíduo
que apresenta necessidades especiais na aprendizagem, compreendendo e
acompanhando o desenvolvimento cognitivo desse aprendiz, diante das aprendizagens
e das dificuldades por ela apresentadas.
Palavras-chave: Psicopedagogia; psicopedagogo;
ensino-aprendizagem; dificuldades de aprendizagem e aprendiz.
ABSTRACT
This search based on authors who have studied human
learning and Psychopedagogy as a field of knowledge aims to show the importance
of psychopedagogists in the development of the learner, as of possibilities of
intervention psychopedagogists face specific difficulties that it presents. In
this research we can conclude that the psychopedagogists acting with a
different look and open listening to the complaints of families and teachers
can make a difference in the development of the student. Thus, the
psychopedagogists has an important role in the life of the child or person with
special needs in learning, understanding and following the development of
cognitive apprentice, before the learning and the difficulties it presented.
Keywords: Psychopedagogy;
psychopedagogists; teaching and learning; learning disabilities and apprentice.
1 – INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia é tomada
como um corpo de conhecimentos buscando soluções para os problemas de
aprendizagem humana. Um campo recente e interdisciplinar que vai desde a
clínica à prevenção atuando com a prática simultaneamente à investigação.
Um olhar psicopedagógico
nesse campo do saber, dos mecanismos das interações entre o aprendiz, o
professor e a família. Entendo o processo em que o aprendiz é um indivíduo
único, cuja personalidade é construída através da vivência social e cultural,
mas, sobretudo, a partir das internalizações que faz acerca da prática social,
das demandas culturais e de suas próprias necessidades. Desta forma,
compreender o processo educativo implica no reconhecimento da existência das funções
psicológicas e cognitivas, as quais caracterizam a aprendizagem humana e que,
para que a verdadeira aprendizagem ocorra, é necessário que todas as funções intelectuais
sejam vivenciadas. O trabalho em sala de aula deve oferecer à criança
oportunidades e situações que a levem a vivenciar ativamente essa importante
fase do desenvolvimento da personalidade e do aprender com o outro. Diante dessas
considerações, a presente pesquisa apresenta a importância do psicopedagogo no
desenvolvimento do educando, e a partir das possibilidades de intervenção do psicopedagogo
diante das dificuldades específicas em que os aprendizes apresentam.
2 – OS PRESSUPOSTOS DA PSICOPEDAGOGIA
A psicopedagogia consiste
numa nova área do conhecimento que, através da interdisciplinaridade, recorre a
contribuições da psicologia e da pedagogia, dentre outras áreas, permitindo uma
apreensão mais efetiva da aprendizagem. Atualmente, adota-se uma concepção de
aprendizagem em que o sujeito compartilha uma interação com o meio no qual está
inserido, aspecto no qual reside a especificidade do objeto de estudo da
psicopedagogia no processo de aprendizagens e seus problemas.
A
Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda – o
problema de aprendizagem colocado em um território pouco explorado, situado
além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evoluiu devido à
existência de recursos ainda que embrionários, para atender a essa demanda,
constituindo-se, assim, em uma prática. Como se preocupa com o problema de
aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem.
Portanto, vemos que a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem
humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está
condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na
aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Esse objeto do
estudo, que é o sujeito, adquire características específicas a depender do
trabalho clínico ou preventivo. (BOSSA, 2011, p.33)
Segundo Maria M. Neves, a
Psicopedagogia inicialmente foi utilizada como adjetivo, indicando um caminho
de atuação entre campos do conhecimento da Psicologia e da Pedagogia.
Dentro
dessa conotação adjetiva da Psicopedagogia, alguns autores, principalmente
pertencentes ao campo pedagógico, no final da década de 70 e início dos anos 80
no Brasil, chamaram de atitude psicopedagógica o que em verdade era um
psicologismo radical. Por isso, tratavam de denunciar a formação dos
professores por eles cognominada de psicopedagógica. (NEVES 1992, P. 10)
2.1
– Pensando sobre o objeto de estudo da Psicopedagogia
A
Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as
realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais
procurando a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando
colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe
estão implícitos. (NEVES 1991, P. 12)
O trabalho clínico se dá na
relação do sujeito com sua história de vida pessoal e a forma como ele aprende.
Isto significa que o profissional precisa conhecer como o sujeito aprende, o
porquê ele aprende, percebendo a relação com a aprendizagem para que ela
aconteça.
O maior objetivo da atuação
do psicopedagogo é eliminar os transtornos já instalados, num procedimento
clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma
vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de
outros.
O trabalho preventivo deve
ser avaliado em seu processo didático-metodológico e como essa dinâmica
institucional interfere no processo de aprendizagem.
A
definição do objeto de estudo da Psicopedagogia passou por fases distintas,
assim, como os demais aspectos dessa área de estudo. Em diferentes momentos
históricos, que repercutem nas produções científicas, esse objeto foi entendido
de várias formas. Houve um tempo que o trabalho psicopedagógico priorizava a
reeducação, o processo de aprendizagem era avaliado em função de seus déficits,
e o trabalho procurava vencer tais defasagens. O objeto de estudo era o sujeito
que não podia aprender, concebendo-se a “não aprendizagem” pelo enfoque que
salientava a falta. Esse ponto de vista buscava estabelecer semelhanças entre
grandes grupos de sujeitos, as regularidades, o esperado para determinada
idade, visando reduzir as diferenças e acentuar a uniformidade. (BOSSA, 2011,
P.33)
3 - A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO MEIO ESCOLAR
A atuação do Psicopedagogo
na instituição escolar parte se faz necessário partido do pressuposto de que as
escolas possuem deficiências em saber as causas das dificuldades de aprendizagens
apresentadas pelas crianças, pois a falta de preparo dos professores frente a
essas dificuldades seria de que o aluno não aprende. Assim, a intervenção
psicopedagógica reconhece que as dificuldades de aprendizagens evidenciam-se
quando há presença de problemas emocionais e comportamentais no desenvolvimento
de uma criança. Na infância podem ser notadas dificuldades comportamentais
quando a criança apresenta comportamentos inadequados à sua faixa etária e
contrários aos comportamentos das crianças que não possuem dificuldades. O comportamento
das crianças com dificuldades de aprendizagem pode ser marcado pelo isolamento,
a inibição e a inquietação.
Para Bossa APUD Kiguel
(1991) que também tem contribuído nesse processo de construção,
Historicamente
a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir
das necessidades de atendimento de crianças com “dificuldades de aprendizagem”,
consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional (...) no
momento atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo,
inclusive no nosso meio, e de contribuições da área da Psicologia, Sociologia,
Antropologia, Linguística, Epistemologia, o campo da Psicopedagogia passa por
uma reformulação. De uma perspectiva puramente clínica e individual busca-se a
compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem e uma atuação de
natureza mais preventiva. (BOSSA, 2011, P.27)
As queixas referentes às
dificuldades de aprendizagens estão ligadas a conflitos emocionais que são
manifestados internamente e a não aprendizagem, muitas vezes, está implicada a
aspectos traumáticos que marcaram, em algum momento, a vida da criança. Nesse
sentido, as escolas têm deficiências em saber as causas das dificuldades de
aprendizagens apresentadas pelas crianças. Uma das formas pelas quais o
Psicopedagogo atua diante das dificuldades de aprendizagem é através da
avaliação psicopedagógica.
Entende-se
como atendimento psicopedagógico clínico a investigação e a intervenção para
que compreenda o significado, a causa e a modalidade de aprendizagem do
sujeito, com o intuito de nanar suas dificuldades. A marca diferencial entre o
psicopedagogo e outros profissionais é que seu foco é o vetor da aprendizagem,
assim como o neurologista prioriza o aspecto orgânico; o psicólogo, aa
“psique”; o pedagogo, o conteúdo escolar. (BOSSA, 2011, P. 103)
De acordo com Ferreira
(2002) Existem seis fases bastante definidas no processo de atuação do
psicopedagogo, as quais podem ser assim definidas, nesse processo.
Avaliação psicopedagógica é um processo de apoio às
decisões tomadas a respeito da situação escolar dos alunos. É um processo
contínuo, que tem a função de melhorar o desenvolvimento e atuação de cada
aluno, direcionando melhor as decisões a serem tomadas no processo
ensino-aprendizagem e complementando a avaliação escolar.
Atualmente, a Psicopedagogia refere-se a um
saber e um saber fazer, às condições subjetivas e relacionais – em especial
familiares e escolares –, a inibições, atrasos e desvios do sujeito ou grupo a
ser diagnosticado. O conhecimento psicopedagógico não se cristaliza em uma
delimitação fixa nem nos déficits e nas alterações subjetivas do aprender, mas
avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de
fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito. (BOSSA, 2011, P. 46)
O aproveitamento da
informação que a escola já possui sobre o aluno é considerado
o ponto de partida para a avaliação psicopedagógica. Para o primeiro contato com
a família, poder comparar as informações que foram passadas à sua ficha pessoal
sobre o desempenho e dificuldades esplanadas pelo professor.
A
categoria “dificuldades de aprendizagem” é tratada como sintoma e abarca
conceitos como dificuldades de aprendizagem escolar, distúrbios de aprendizagem
escolar, problemas específicos da aprendizagem escolar, déficit de atenção,
transtorno de leitura, transtorno de escrita, dislexia e outros. Da mesma forma,
a instituição escola é parte integrante do nosso objeto de investigação.
(BOSSA, 2011, P. 199)
Na Educação Infantil, são pontuados os hábitos, atitudes
do cotidiano da criança, normas, relações, capacidades relativas à comunicação,
expressão e compreensão da linguagem, desenvolvimento motor, memória e atenção.
No Ensino Fundamental, considera-se a autonomia da
criança e relação à organização pessoal, hábitos de higiene, capacidades de
linguagem, habilidades motoras, tarefas escolares, deveres de casa, atitudes em
relação à família, adultos e a dependência ou independência nas relações
sociais.
E no Ensino Médio, são consideradas informações espontâneas
sobre a família, a escola, amigos, interesses, problemas, aceitação e
cumprimento de normas, atitudes em casa, autonomia e relações sociais.
A avaliação da situação
inicial é realizada após a solicitação de intervenção e se orienta pelas informações
já obtidas pela queixa na solicitação da avaliação psicopedagógica. Registros
são feitos para a próxima análise e as decisões a serem tomadas facilitando a
intervenção de ajuda psicopedagógica que poderá ser realizada em três etapas
que são: a observação em sala de aula, para obter informação de como se
desenvolve a dinâmica da aula em seu conjunto, a análise do trabalho dos
alunos: correções, anotações, comentários escritos e a análise comparativa
acompanhando a evolução da aprendizagem ao longo do curso, para introduzir
mudanças que sejam necessárias.
Após as fases anteriores,
passa-se a buscar informações sobre a capacidade do aluno nas diferentes áreas
do currículo e em relação a diferentes capacidades e habilidades. Através das
provas psicopedagógicas essas informações são facilitadas e é possível observar
o estilo de aprendizagem e dificuldades em progredir na escolaridade de cada
aprendente. E além da vida escolar, essas provas observam o relacionamento
familiar e social.
Uma devolutiva é encaminhada
aos professores, iniciando-se com uma avaliação positiva do aluno, salientando
suas capacidades, projetando-se e planejando-se as ações educativas
necessárias, enfatizando a explicação da situação do aluno no contexto escolar.
A devolutiva acontece em resumo escrito da avaliação com orientações sobre o
trabalho que deve iniciar, bem como a função de cada um dos envolvidos nessas
ações e programando-se reuniões de acompanhamento posterior.
Em mais uma fase, a informação
aos pais ou responsáveis legais acontece com as conclusões da avaliação psicopedagógica
e quais as decisões que serão tomadas pelo professor com relação ao aprendente.
Essas entrevistas familiares devem ser realizadas preferencialmente pelo
professor.
O acompanhamento acontece na
revisão do processo educativo, apresentação de sugestões sobre as adaptações a
serem feitas no currículo para ações posteriores, envolvendo toda a comunidade
escolar e familiar favorecendo e respeitando diferenças individuais e
promovendo aprendizagens mais significativas.
A função principal da
intervenção psicopedagógica é colaborar com as equipes de professores para
efetivar a melhoria da qualidade da educação garantindo a aprendizagem ao
educando conhecendo a forma como ele aprende.
...Os verbos “ler” e “escrever” deixaram de ter uma
definição imutável: não designavam mais (e tampouco designam hoje) atividades
homogêneas. Ler e escrever são construções sociais. Cada época e cada circunstância
histórica dão novos sentidos a esses verbos. (FERREIRO, 2002, p.13)
4 – CONCLUSÃO
Hoje, o psicopedagogo é um
profissional qualificado para trabalhar com a prevenção e detenção de
dificuldades e ou problemas de desenvolvimento pessoal e de aprendizagem que o
aprendente possa apresentar.
Lidar com o insucesso
escolar é uma tarefa complexa e desafiadora para a qual não se tem uma resposta
acabada e pronta, o que aponta para a necessidade de buscar alternativas que
possam minimizar tal situação, mas temos no Psicopedagogo um profissional do
conhecimento trans/inter/multidisciplinar, que aplica conhecimentos
considerando as realidades tanto internas como externas da aprendizagem. Por
isso, concluiu-se que o Psicopedagogo é necessário ao desenvolvimento do
educando, com uma escuta e um olhar mais sensível quanto às demandas de
professores, alunos e famílias. A intervenção do psicopedagogo não termina na
escola ou na sala de aula. Ela estende-se a família.
Falar
sobre Psicopedagogia é necessariamente, falar sobre a articulação entre
educação e psicologia, articulação essa que desafia a estudiosos e práticos
dessas duas áreas. Embora quase sempre presente no relato de inúmeros trabalhos
científicos que tratam principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o
termo Psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual.
(BOSSA 1992, P. 10)
Assim, a Psicopedagogia tem
um importante papel na vida da criança que apresenta necessidades e demanda
cuidados, pois, enquanto aprende na escola, compreendendo que o desenvolvimento
cognitivo de uma criança é uma longa fileira de transformações, de
transgressões de uma atividade dominante para outra, é um diálogo que ela
estabelece com o seu futuro, com o caminho que vai trilhar e com os recursos e
possibilidades que o meio lhe oferece.
Para
finalizar, poderíamos observar que, na medida em que avançamos na produção
científica do nosso campo teórico, o sujeito da Psicopedagogia tem assumido
contornos mais específicos. Não se trata do sujeito epistêmico de Piaget, do
sujeito inconsciente de Freud, do sujeito cindido de Lacan, e outros, porém
estamos tratando de resgatar um sujeito total: não a soma, mas sim a
articulação desses sujeitos ou fragmentos, em um novo desenho, mais coerente com
o pensamento científico atual. (BOSSA, 2011, P.232)
5 – REFERÊNCIAS
BASSEDAS, E. et al. Intervenção educativa e diagnóstico
psicopedagógico. 3ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 1996.
BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil. 4ª ed. Rio
de Janeiro, WAK 2011.
FERREIRA, Renata T. da S. A importância da psicopedagogia no ensino
fundamental – 1ª a 4ª séries.
FERREIRO,
Emília. Passado e presente dos verbos
ler e escrever. São Paulo: Cortez, 2002.
MARIANTE, Maria Alvina
Pereira. Psicopedagogia online.
Disponível em HYPERLINK http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.
MONERO, Carlos; SOLÉ, Isabel
et al. O assessoramento psicopedagógico:
uma perspectiva profissional e construtivista. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 2000.
MORAIS, Arthur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2000.
NEVES, M. A. Psicopedagogia:
um só termo e muitas significações. In Boletim da Associação Brasileira de
Psicopedagogia, v.10, n.21, 1991.
WEISS, M. L. L. Psicopedagogia
clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 4ª
ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Pensamentos
Ao fim de tarde,
Os pensamentos vêm...
Ao cair da noite,
Os pensamentos vêm...
E a noite adentra,
E os pensamentos lá...
Esperando o sol raiar.
Os pensamentos vêm...
Ao cair da noite,
Os pensamentos vêm...
E a noite adentra,
E os pensamentos lá...
Esperando o sol raiar.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Helena
Maria Ferreira
O
presente artigo é uma pesquisa científica com bases teóricas acerca das
dificuldades de aprendizagem e a intervenção psicopedagógica, buscando caminhos
para compreender as formas de aprendizagem e meios para sanar essas
dificuldades, tornando o educando uma pessoa mais feliz.
A
partir dos anos de 1980, a Psicopedagogia veio resgatar uma visão mais
abrangente e globalizante do processo de aprendizagem humana e os problemas
decorrentes desse processo.
Não
é fácil encontrarmos uma definição completamente clara e abrangente para
explicar o que é “problema de aprendizagem”.
Segundo
Sara Pain (1992, p.11), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão
da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação.
E
à educação atribuímos quatro funções interdependentes: função mantenedora,
função socializadora, função repressora e função transformadora. Sendo assim, o
sujeito que não aprende, não realiza essas funções da educação. A
psicopedagogia é a técnica de condução do processo de aprendizagem, levando a
cumprir os fins educativos.
As
perturbações da aprendizagem são aquelas que interferem nesse processo de
aprendizagem impedindo ao sujeito usufruir de suas possiblidades cognitivas.
Nas
dimensões do processo de aprendizagem observamos que o conhecimento é adquirido
na formação hereditária, de acordo com o meio onde se vive e por meio de
experiências vividas. E nessas três dimensões se completa a aprendizagem
humana.
De
acordo com alguns estudiosos, a aprendizagem humana é um processo integrado que
provoca a transformação qualitativa na estrutura mental do sujeito que aprende.
O ser humano já nasce com potenciais de aprendizagem e necessitam de estímulos
internos e externos para o aprendizado.
O sujeito e o objeto não são
dados como instâncias originariamente separadas. Pelo contrário, eles se
discriminam justamente em virtude da aprendizagem e do exercício. À medida que
exerce sua atividade sobre o mundo, o bebê pode construir apesar das
transformações, objetos permanentes, entidades diferentes dele e idênticas a si mesmas; por outro lado, tal atividade o
define como agente e o determina, em primeiro lugar, pelo seu poder, como capacidade
de ação. Portanto, podemos falar de condições externas e internas da
aprendizagem apenas no sentido descritivo, já que nem sua genética na ação nem
seu funcionamento dialético permitem a adoção do esquema estímulo-resposta que
tal dicotomia sugere. (Pain, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de
Aprendizagem. Ed. Artes Médicas; Porto Alegre. 1992, p.21).
O
problema de aprendizagem é considerado um sintoma, sendo que, não é um quadro
permanente, podendo ser passível de transformação.
Podemos
definir alguns fatores que interferem na aprendizagem que devem ser
considerados no diagnóstico. São eles:
·
Fatores orgânicos;
·
Fatores específicos;
·
Fatores psicógenos;
·
Fatores ambientais.
a) Os
fatores orgânicos (fatores fisiológicos) - Estes sistemas são ligados ao
sistema nervoso central. Quando sadio, possui ritmo, plasticidade e equilíbrio,
garantindo harmonia nas mudanças. Porém, quando há lesões ou desordens
corticais comprometendo assim, a aprendizagem (apraxias, afasias, certas
dislexias).
b) Fatores
específicos – Estão intimamente ligados na área perceptivo-motora, e na
lateralidade do sujeito. Esses transtornos aparecem no nível da aprendizagem da
leitura e da escrita. Nestes casos o tratamento psicopedagógico alcança êxito,
desde que seja diagnosticado corretamente esse transtorno de aprendizagem que
se denomina como dislexia (dificuldade para aprender ler e/ou escrever).
c) Fatores
psicógenos - Ligados à estruturação da
formação da personalidade (Id, ego e superego). O fator psicógeno do problema
de aprendizagem pode ser confundido com sua significação e o não aprender é
constituído como inibição ou como sintoma. Um exemplo de problema de
aprendizagem ligado a esse fator é a disortografia.
d) Fatores
ambientais – Estímulos que constituem a aprendizagem e o meio ambiente material
do sujeito. O problema de aprendizagem se apresenta de acordo com a ideologia e
valores do grupo ao qual está inserido.
À
luz de várias contribuições, de diversas áreas do conhecimento como a
Psicologia, Linguística, Psicolinguística, Sociologia, antropologia, a
Psicopedagogia encontra diferentes abordagens para os problemas de
aprendizagem.
Podemos
destacar a contribuição de Emília Ferrero, seguidora do pensamento piagetiano,
buscando novos caminhos e olhares para o entendimento da leitura e da escrita.
Ela ainda contribui com as teorias desafiadoras de transformar o espaço de
aprendizagem em um espaço construtivista. Onde, os “erros dos alunos” são
transformados em objetos de construção do conhecimento.
Não
desconsiderando o valor real dos testes diagnósticos de alguns problemas de
aprendizagem, uma vez que Vygotsky através da teoria da zona proximal, onde o
ambiente social das crianças é considerado e essa concepção, passa a ser um
momento privilegiado no processo de desenvolvimento da criança. E podemos
assim, apostar nas capacidades das crianças, considerando mais suas qualidades
do que seus defeitos.
Visca
(1991) concebe a aprendizagem como um processo com a interferência de aspectos
emocionais, cognitivos, biológicos e sócias. Para ele, existem níveis de
aprendizagem que iniciam com o nascimento e se estendem até à morte. Esses
níveis são denominados: proto-aprendizagem, dêutero-aprendizagem, aprendizagem
assistemática e aprendizagem sistemática.
a) Proto-aprendizagem
– Caracteriza-se pelos primeiros contatos com a mãe.
b) Dêutero-aprendizagem
– Caracteriza-se pelas relações da criança com os objetos e ambiente que a
rodeiam.
c) Aprendizagem
assistemática e aprendizagem sistemática – Caracterizam-se pelas interações do
indivíduo com a sociedade e com as instituições educativas.
Para
Pain (1985), a aprendizagem depende da articulação de fatores internos e
externos ao sujeito. De acordo com a autora a aprendizagem apresenta três
funções: socializadora, repressiva e transformadora.
a) Função
socializadora – Submete-se às normas e regras identificando-se com o grupo
social ao qual pertence.
b) Função
repressiva – Garantindo-se em sobrevivência ao sistema que rege a sociedade.
c) Função
transformadora – Permite ao sujeito uma participação na sociedade, na
perspectiva de transformá-la.
Visca
e Pain oferecem valiosas contribuições à Psicopedagogia por apresentarem uma
concepção mais completa e abrangente do ser humano, evidenciando a necessidade
multidisciplinar na ação psicopedagógica.
O
processo de aprendizagem na abordagem de Piaget, com a teoria da equilibração,
trata de maneira trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a
acomodação. Considerado como um mecanismo regulador que assegura a interação
eficiente do sujeito com o meio ambiente.
Piaget
(1975) define que, o equilíbrio cognitivo implica afirmar a presença necessária
de acomodações nas estruturas do cérebro. No processo de desenvolvimento, tal
como é visto por Piaget, cada criança se desenvolve através de estágios. O
autor distingue três estágios fundamentais:
a) Sensório motor – que vai do nascimento até os 2 anos de idade. Sendo que neste estágio a criança evolui no entendimento do mundo exterior em relação a si própria.
b) Operações concretas – estende-se dos 2 aos 11 anos de idade e subdivide-se em pensamento pré-operacional (de 2 a 7 anos) e pensamento operacional concreto. Concretiza-se na preparação e na realização das operações concretas em classes, relações e números.
c)
Operações formais – de 11/12 até 14/15 anos. Período no qual o adolescente
ajusta-se à realidade completa de sua atualidade, tornando-se capaz de lidar
com o mundo das possibilidades.
Os períodos ou estágios da teoria de
Piaget não constituem divisões arbitrárias do processo evolutivo. Cada um deles
possui características mínimas que o define.
A teoria de aprendizagem de Jean Piaget alertou os educadores para o respeito ao estágio de desenvolvimento do pensamento infantil, adequando as atividades escolares às características evolutivas das crianças.
A teoria de aprendizagem de Jean Piaget alertou os educadores para o respeito ao estágio de desenvolvimento do pensamento infantil, adequando as atividades escolares às características evolutivas das crianças.
Os
interacionistas Jean Piaget e Lev Vygotsky se tornaram expoentes referenciais
na Pedagogia contemporânea.
Piaget
acredita que a aprendizagem se dá através do desenvolvimento, minimizando o
papel de interação social e Vygotsky privilegia o ambiente social como fator de
desempenho da aprendizagem, apesar de acreditar que a construção do
conhecimento e o desenvolvimento também têm participação no processo de
aprendizagem.
Para Vygotsky, a cultura molda o psicológico, determinando a maneira de pensar do sujeito. Pessoas de diferentes culturas têm diferentes perfis psicológicos. As funções psicológicas de uma pessoa são desenvolvidas ao longo do tempo e mediadas pelo social, através de símbolos criados pela cultura. A linguagem representa a cultura e depende do intercâmbio social. Os conceitos são construídos no processo histórico e o cérebro humano é resultado da evolução. As aprendizagens são construídas e internalizadas de maneira não linear e diferente para cada pessoa, onde o cotidiano está sempre em movimento e em transformação.
De acordo com Ferreiro, imaturidade,
prontidão, habilidades motoras e perceptuais deixam de ter sentido
isoladamente. Os aspectos motores, cognitivos e afetivos são importantes, à
medida que são tratados no contexto da realidade sócio cultural das crianças. “Hoje a perspectiva construtivista
considera a interação de todos eles, numa visão política, integral, para
explicar a aprendizagem” diz Ferreiro.
As dificuldades de aprendizagem
mais comuns são: a dislexia a disgrafia, a discalculia, a dislalia, a
disortografia e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
a) Dislexia:
é a dificuldade que aparece na leitura. A criança faz trocas ou omissões de
letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, apresentando dificuldades
para ler um texto fluentemente. Estudiosos afirmam a dislexia é causada por
fatores genéticos, mas, ainda não foi comprovado pela medicina.
b) Disgrafia: geralmente vem associada à
dislexia, porque a criança faz trocas e inversões de letras e consequentemente
encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal
traçadas e ilegíveis e apresenta desorganização ao produzir um texto.
c) Discalculia: é a dificuldade para cálculos e
números. Geralmente os portadores dessa dificuldade não identificam os sinais
das quatro operações e não sabem usá-los. Não compreendem os enunciados de
problemas, não conseguem quantificar, comparar e consegue fazer sequências
lógicas. Esse problema é um dos mais complexos e mais difíceis de diagnosticar.
d) Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresentando
pronúncia errada das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as
confusas. É uma dificuldade mais manifestada em pessoas com problemas no
palato, flacidez na língua ou lábio leporino.
e) Disortografia:
é a dificuldade na linguagem escrita e também pode manifestar-se como
consequência da dislexia. As principais características da disortografia são:
troca de grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação
indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação
e acentuação.
f)
TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, manifestando sinais
evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. É
comum vermos crianças e adolescentes sendo rotulados como hiperativos. Por
isso, é importante que esse diagnóstico seja feito por um médico neurologista e
outros profissionais.
E
ao decorrer das pesquisas, em uma abordagem geral, podemos traçar o somatório
de todos os fatores que influenciam a aprendizagem, abrindo um leque de
possibilidades de estudo para se diagnosticar os problemas de aprendizagem.
E
dentro da visão acadêmica atual, podemos classificar essas dificuldades de
aprendizagem nos fatores: biológicos, sociais, psicológicos e fatores
pedagógicos. E que cada um desses fatores é objeto de estudo de cada uma dessas
áreas. Dá-se então, a importância de cada especialista para o atendimento da
criança com dificuldades de aprendizagem.
Cada
pessoa é única. Cada vida tem sua própria história. É preciso conhecer a
criança e como ela aprende. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças,
intervindo diante das queixas da escola, trabalhando com os erros e acertos,
resgatando o desejo de aprender.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. FERREIRO,
Emilia & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese
da Língua Escrita. Artes Médicas, Porto Alegre, 1986.
2. FERREIRO,
Emilia. Alfabetização em Processo. Ed. Cortez. São Paulo. SP.
3. FERNANDEZ,
Alicia. A Inteligência Aprisionada.
Ed. Artes Médicas. Porto Alegre.
4. SCOZ,
Beatriz. Psicopedagogia e Realidade
Escolar – o problema escolar e de
aprendizagem. Ed. Vozes. Petrópolis, 1994.
5. PAIN,
Sara. Diagnóstico e Tratamento dos
Problemas de Aprendizagem. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1994.
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