quinta-feira, 5 de abril de 2012

Como articular a função social da escola com as especificidades e as demandas da comunidade?

 Helena Ferreira

Para compreender a função social da escola, é importante situá-la no mundo moderno, observando os múltiplos papeis exercidos por ela ao longo do tempo.
A escola sempre ocupou um papel muito importante na sociedade, no decorrer da história, socializando o saber sistematizado. No princípio era privilégio de uma pequena minoria e assumia um caráter elitista. A escola privada sempre foi destinada aos filhos dos ricos, excluindo a grande maioria. As escolas públicas existentes também eram seletas e eram pagas para estudar. Era bastante comum encontra escolas públicas de elite, como os antigos Liceus e Institutos de Educação, ainda hoje presentes nas grandes cidades brasileiras. A diferença mais importante entre as escolas do passado e as de hoje é que aquelas escolas atendiam uma minoria de alunos e as de hoje estão repletas de alunos de todas as origens, já que a grande maioria das crianças brasileiras frequenta a escola pública.
A partir do século XX mais especificamente nas décadas de 20 e 30, o acesso à escola começou a se ampliar, em contrapartida as salas de aula não comportavam o contingente de alunos nem tão pouco os professores estavam preparados para essa realidade, gerando problemas de “qualidade” que persistem até os nossos dias. Surge a legislação brasileira e a LDB, todavia, sempre houve um descompasso entre as determinações legais e a realidade onde a escola estava inserida.
Neste cenário, a escola exercia a função social como responsável pela transmissão do saber sistematizado, modificando-se conforme as demandas da sociedade da época.
Já segunda metade do século XX, o grande desafio apresentado é o de integrar consciente e criticamente a escola, seus alunos e professores no universo da sociedade do conhecimento. Assim, mais do que nunca, o que se exige do educando, nesse novo milênio é a sua capacidade de entender as mudanças, identificar problemas e as condições delas decorrentes, apontando alternativas educacionais que possibilitem uma educação pautada sob os princípios que norteiam a educação: aprender a conhecer, fazer, conviver e ser objetivando, sobretudo, o pleno desenvolvimento do ser humano enquanto cidadão. Trata-se, portanto, de romper com paradigmas que estão arraigados e com metodologias ultrapassadas, e a escola não é mais concebida como detentora do saber, pois hoje há um reconhecimento de que a educação acontece através de várias redes e os alunos precisam interagir com os conhecimentos assimilados.

Para Gadotti (1995, p.83), “a força da educação está no seu poder de mudar comportamentos. Mudar comportamentos significa romper com certas posturas, superar dogmas, desinstalar-se, contradizer-se”.

A expressão “gestão democrática” foi incorporada ao glossário pedagógico da escola pública brasileira e, principalmente, nas últimas décadas tem sido muito difundida, pois sabemos que a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática na escola, possibilitando o envolvimento dos profissionais da educação, alunos e comunidades em geral na tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Entretanto, podemos afirmar que a democracia é um valor, ou seja, uma conquista estando expressa na Constituição Federal como também na LDB que é um documento que rege os princípios e normas da educação, sendo necessário por tanto, assegurá-la. Como processo, deve ser construída no cotidiano das relações escolares, pois sabemos que a escola não pode ser uma instituição isolada em si mesma, mas integrada e interagida com a vida social mais ampla.

De acordo com Gadotti (1995), são necessárias algumas diretrizes básicas, dentre as quais estão: a autonomia da escola, incluída uma gestão democrática, a valorização dos profissionais de educação e de suas iniciativas pessoais. Dentre os caminhos buscados para efetiva democratização do ensino público é justamente a democratização da gestão do sistema educativo que busca envolver os setores mais amplos da sociedade: paz, moradores, movimentos populares dentre outros.


É importante enfatizar que cada escola possui sua identidade própria, sua cultura e, por isso, é importante que tudo isso seja respeitado e contemplado no Projeto Político Pedagógico. Fortalecer a gestão da escola, influenciar no seu crescimento são possibilidades oferecidas pela gestão democrática bem sucedida.

É preciso considerar finalmente a prática pedagógica, mais especificamente na escola na qual trabalhamos. Façamos uma reflexão sobre o exercício da prática docente e ou em sua gestão educacional, revendo a realidade, buscando alternativas para alcançar a escola ideal, pois a real ainda tem muito a ser feita. Mudar a situação existente, portanto, é uma tarefa de todos.