quarta-feira, 30 de abril de 2008

segunda-feira, 28 de abril de 2008

SER MÃE



Ser Mãe

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração!

Ser mãe é ter no alheio

lábio que suga,

o pedestal do seio,

onde a vida,

onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra

sobre um berço dormindo!

É ser anseio,

é ser temeridade,

é ser receio,

é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,

espelho em que se mira afortunada,

Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!

Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!

Ser mãe é padecer num paraíso!


Coisas de mãe




Coisas de mãe


Se os filhos estão bem alimentados,

É ela que se sente satisfeita.

Se estão risonhos e felizes,

É ela que se pega sorrindo também.

Se estão de roupinha nova,

É ela que se sente bonita.

Se eles vão bem na escola,

Parece que o aproveitamento escolar é dela.

Se arranjam novos amigos,

É ela que se sente popular e querida.

Se viajam para novos lugares,

É ela que curte o passeio, mesmo ficando em casa.

A cada meta que atingem ou troféu que ganham,

É ela que curte a sensação de vitória.

Passa a gostar de rock,

Mesmo que antes não pudesse nem ouvir.

Passa a olhar com simpatia,

Os ídolos e os amores de seus filhos.

Passa a adorar cachorros,

Mesmo que antes só gostasse de gatos.

Desnecessário dizer o que ela sente,

Quando alguma coisa dá errado, porque, por tabela,

Ela sentirá em dose tripla,

Cada tombo,

Cada perda,

Cada rejeição,

Cada fracasso,

Cada desapontamento.

Tudo isto são...coisas de mãe !



Fátima Irene Pinto


Poema para mamãe


Poema para a mãe


Giuseppe Ghiaroni

Mãe! hoje eu volto a te ver na antiga sala


onde uma noite te deixei sem fala


dizendo adeus como quem vai morrer.


E me viste sumir pela neblina,


porque a sina das mães é esta sina:


amar, cuidar, criar e depois perder.


Perder o filho é como achar a morte.


Perder o filho quando, grande e forte,


já podia ampará-la e compensá-la.


Mas nesse instante uma mulher bonita,


sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita


ainda se volta para abençoá-la.


Assim parti, e nos abençoaste.


Fui esquecer o bem que me ensinaste,


fui para o mundo me deseducar.


E tu ficaste num silêncio frio,


olhando o leito que eu deixei vazio,


cantando uma cantiga de ninar.


Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,


a cabeça pendida sobre o peito.


Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.


Quero acordar-te, mas não sei se devo,


não sinto que me caiba este direito.


O direito de dar-te este desgosto,


de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.


E quando vires e expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,


minha voz rouca murmurar:'


'Sou eu!


"Eu bebi na taberna dos cretinos,


eu brandi o punhal dos assassinos,


eu andei pelo braço dos canalhas.


Eu fui jogral em todas as comédias,


eu fui vilão em todas as tragédias,


eu fui covarde em todas as batalhas.


Eu te esqueci:


as mães são esquecidas.


Vivi a vida,


vivi muitas vidas,


e só agora, quando chego ao fim,


traído pela última esperança,


e só agora quando a dor me alcança


lembro quem nunca se esqueceu de mim.


Não! Eu devo voltar, ser esquecido.


Mas que foi?


De repente ouço um ruído;


a cadeira rangeu; é tarde agora!


Minha mãe se levanta abrindo os braços e,


me envolvendo num milhão de abraços,


rendendo graças, diz:
"Meu filho!",
e chora.


E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,


em vez de o último dos condenados.


E o seu pranto rolando em minha face


quase é como se o Céu me perdoasse,


me limpasse de todos os pecados.


Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.


Lembro que fui criança, que fui puro.


Sim, tenho mãe!


E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:


o filho é pobre, mas a mãe é rica!


O filho é homem, mas a mãe é santa!


Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,


mas que me beija como agradecendo


toda a dor que por mim lhe foi causada.


Dos mundos onde andei nada te trouxe,


mas tu me olhas num olhar tão doce


que , nada tendo, não te falta nada.


Dia das Mães!


É o dia da bondade


maior que todo o mal da humanidade


purificada num amor fecundo.


Por mais que o homem seja um mesquinho,


enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho


cantará a esperança para o mundo!




Mães



Mães



Devany A. Silva





Mãe de um marmanjo, mãe de um anjo.

Mãe de um ladrão, mãe de um anão.

Mãe de um demente, mãe de um doente.

Mãe de um detento, mãe de um rebento.

Mãe de favela, mãe de novela.

Mãe que cai, mãe que se vai.

Mãe de um artista, simplista ou ativista.

Mãe de um sonho, medonho ou risonho.

Mãe de esquina, mãe tão menina.

Mãe que só padece, mãe que só se oferece.

Mãe que ri, chora ... e se esquece.

Mãe que é xingada, mãe que é “lembrada”... e é amada.

Mãe que cria, educa e é... deixada.

Mãe que não cai, mãe que é pai.

Mãe que fala, mãe que luta.

Mãe que se cala, mãe que só escuta.

Mãe que se vende, mãe que se rende.

Mãe que é enganada, mãe que é “forçada”.

Mãe que é no “berro”, mãe que é de ferro.

Mãe que é expulsa, mãe que é avulsa.

Mãe que nem pensa, que gera... dispensa.

Mãe que hoje chora,

mas não demora em ver que há uma formosa Senhora

que vem fazendo a hora.

Mãe, mesmo aflita és bendita.

Mãe Patrícia ou mãe Dita,

mãe Maria ou Madalena,

mãe mais alta ou mãe pequena:

Que venha o fruto de seu ventre,

a crescer junto com a gente,

e aprender com quem é decente.

Mesmo que não seja diferentedos frutos de atualmente,

mas que aprenda e ensine um tanto,

enquanto fico em meu cantor e vivendo um velho canto:

viver é somar,

viver é enfrentar.

No meio de alaridos,

viver é calar.

E a lembrar:


A Vida é pra frente.

A Vida é em frente.

A Vida é:


Enfrente.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

POMBO CORREIO




Pombo-correio
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Pombos-correio.
O pombo-correio é uma variedade domesticada do pombo-comum ou pombo-das-rochas (Columba livia), foi escolhido porque todo pombo retorna geralmente a seu próprio ninho e a sua próprio mãe, era relativamente fácil produzir seletivamente os pássaros que encontravam repetidamente o caminho de volta em longas distâncias.
Os pombos-correios foram usados para carregar mensagens escritas em papel claro fino (tal como o papel de cigarro) em um tubo pequeno unido a um pé; por isso o nome de pombo-correio.
Atualmente os pombos são utilizados para fins desportivos(columbódromos e campeonatos), concursos e exposições

quarta-feira, 23 de abril de 2008

POESIA



TEM TUDO A VER

ELIAS JOSÉ



A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.


A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.


A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.


A poesia
- é só abrir os olhos e ver-
tem tudo a ver
com tudo.

POESIA





BOM DIA POESIA

CELINA FERREIRA

Acordo leve e contente,
entre cores e alegria.
Penso no mar, nas montanhas,
nos rios, na maresia,
nos peixinhos, nos corais,
no sol que me traz o dia.
Em tudo sinto a grandeza,
em tudo vivo a poesia.

Abro os olhos, que beleza
que Deus agora me envia.
Sou dona dos horizontes,
dos verdes prados e montes,
da terna e doce harmonia.
Dos frutos que vêm da terra,
dos tesouros que ela encerra,
das riquezas que ela cria.


Sinto a paz dentro de mim
e nada perturbaria
a minha grande esperança
que um dia cada criança
viva também a poesia
que recolho do universo
e concentro em cada verso
que distribuo: Bom dia!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Para refletir


ಌღಌ: •com o tempo a gente aprende!!!




~> aprende a dar valor

~>aprende a amar

~>aprende a estudar

~>aprende a acolher

~>aprende a perdoar

~>aprende a perder

~>aprende a ensinar

~>aprende a ganhar

e com todos esses aprendizados a gente cresce

...amadurece

...perder não significa fracassar,
nunca mais possuir alguém ou algo

...perder significa um começo de vitória

...desde que você saiba aceitar e dividir seus erros!



(autor desconhecido)


POEMA



ஃﻶჱﻶﻉஃ Caminhos Cruzados





Quando um coração que está cansado de sofrer

Encontra um coração também cansado de sofrer

É tempo de se pensar

Que o amor pode de repente chegar

Quando existe alguém que tem saudade de outro alguém

E esse outro alguém não entender

Deixe esse novo amor chegar

Mesmo que depois seja imprescindível chorar

Que tolo fui eu que em vão tentei raciocinar

Nas coisas do amor que ninguém pode explicar

Vem nós dois vamos tentar

Só um novo amor pode a saudade apagar





Tom Jobim

PENSAMENTO
















POEMA


segunda-feira, 21 de abril de 2008

Poema


MUNDO FLORIDO



Eu queria ter um mundo

ter um mundo melhor

onde a gente só vivesse

do amor e para o amor







Neste mundo meu,


teria muitas flores,


muito verde,


muitas cores...


E colhendo?


Colhendo só amor.






Mas esse mundo


vamos realizar.


Vou fazer um mundo assim,


lá no fundo do meu jardim!...








Helena Ferreira

domingo, 20 de abril de 2008

Informativo - IES Pitágoras


Sugestão de leitura



Recomendo este livro de Monteiro Lobato.

Fala de uma aventura vivida pelo Pedrinho, quando sai para caçar e encontra uma onça...

Se quiser saber mais, leia ! É uma história e tanto!

terça-feira, 15 de abril de 2008

MONTEIRO LOBATO




A obra de Monteiro Lobato

Um dos mais importantes autores da nossa literatura, Monteiro Lobato soube, como ninguém, captar as aspirações e sentimentos dos brasileiros, legando, no conjunto da sua obra, um expressivo retrato do país e de sua gente.
Pensamento dos mais fecundos na primeira metade do século XX, foi um escritor-cidadão de personalidade inquieta e múltiplos interesses. Sua vasta cultura transparece nos livros que trazem uma mistura equilibrada de erudição e coloquialismo, traduzida em uma linguagem rica e inovadora. Abordando temas de cunho universal dentro de uma perspectiva brasileira, Lobato incorpora o frescor e o colorido das tradições locais. Libertária na forma e no conteúdo, a obra lobatiana, que seduziu gerações sucessivas de leitores, permanece atual, dialogando com temas do terceiro milênio.
Monteiro Lobato é também um clássico do faz-de-conta, tão grande quanto Esopo, La Fontaine e Andersen. Criador da nossa literatura infanto-juvenil, escreveu livros divertidos e ao mesmo tempo repletos de informação. Com eles se aprende brincando. Trazendo figuras da mitologia e das fábulas clássicas para interagir com a turma do Sítio do Picapau Amarelo, suas histórias instigam a curiosidade das crianças, despertando nelas o gosto pela leitura. No seu mundo encantado desaparecem as fronteiras entre ficção e realidade e, graças ao pó de pirlimpimpim, um ingrediente mágico catalisador da fantasia, tudo é possível.
Por seu caráter formador, as obras de Monteiro Lobato não devem faltar em nenhuma biblioteca. Indispensáveis, elas contribuem para ampliar nossa imaginação e a consciência da riqueza e diversidade cultural do Brasil.


Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta

segunda-feira, 14 de abril de 2008

MONTEIRO LOBATO


18 DE ABRIL DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL
MONTEIRO LOBATO



"Um país se faz com homens e livros"(Monteiro Lobato)

José Bento Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté, no Vale do Paraíba. Estreou no mundo das Letras com pequenos contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista.
No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Colaborou em publicações dos alunos, vencendo um concurso literário, promovido em 1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto.
Morou na república do Minarete, liderou o grupo de colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um jornalzinho de Pindamonhangaba, que tinha como título o mesmo nome daquela moradia de estudantes.
Nessa fase de sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria vida afora.
Viveu um tempo como fazendeiro, foi editor de sucesso, mas foi como escritor infantil que Lobato despertou para o mundo em 1917.
Escreveu, nesse período, sua primeira história infantil, "A menina do Narizinho Arrebitado". Com capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o livrinho, lançado no natal de 1920, fez o maior sucesso. Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Anastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do planeta.
Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional. E fez mais: misturou todos eles com elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema.
No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o Saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de Alice. Mas Monteiro Lobato também fez questão de transmitir conhecimento e idéias em livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela em que se aprende brincando.
Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que enfrentar uma série de obstáculos. Primeiro, foi a Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924, paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, causando grande prejuízo. Seguiu-se uma inesperada seca, obrigando a um corte no fornecimento de energia. O maquinário gráfico só podia funcionar dois dias por semana.
E, numa brusca mudança na política econômica, Arthur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil. A conseqüência foi um enorme rombo financeiro e muitas dívidas. Só restou uma alternativa a Lobato: pedir a autofalência, apresentada em julho de 1925. O que não significou o fim de seu ambicioso projeto editorial, pois ele já se preparava para criar outra empresa.
Assim surgiu a Companhia Editora Nacional. Sua produção incluía livros de todos os gêneros, entre eles traduções de Hans Staden e Jean de Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio, reimprimindo na empresa sua marca inconfundível: livros bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme sucesso de público.
Sofreu perseguições políticas na época da ditadura, porém conseguiu exílio político em Buenos Aires. Lobato estava em liberdade, mas enfrentava uma das fases mais difíceis da sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho, e presenciou o processo de liquidação das companhias que fundou e, o que foi pior, sofreu com a censura e atmosfera asfixiante da ditadura de Getúlio Vargas.
Partiu para a Argentina, após se associar à Brasiliense e editar suas Obras Completas, com mais de dez mil páginas, em trinta volumes das séries adulta e infantil. Regressou de Buenos Aires em maio de 1947 para encontrar o país às voltas com situações conflituosas do governo Dutra. Indignado, escreveu "Zé Brasil".
No livro, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que Lobato depois descobriu vítima da miséria, vira um trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no latifúndio e na distribuição injusta da propriedade rural seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta, mas seu criador já estava cansado de tantas batalhas. Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia 4 de julho de 1948, virou "gás inteligente" - o modo como costumava definir a morte.
Monteiro Lobato foi-se aos 66 anos de idade, deixando uma imensa obra para crianças, jovens e adultos e o exemplo de quem passou a existência sob a marca do inconformismo.

LIVROS





SOBRE OS LIVROS


"Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas - L.I.V.R.O. Ele representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada nem ligado.
É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!
Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e são capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantém automaticamente em sua seqüência correta.
Através do uso intensivo do recurso TPA - Tecnologia do Papel Opaco - permite que os fabricantes usem as duas faces da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os seus custos pela metade! Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para se fazer L.I.V.R.O.s com mais informações, basta se usar mais páginas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais difíceis de serem transportados, fato que atrai críticas dos adeptos da portabilidade do sistema.
Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, em seu cérebro. Lembramos que quanto maior e mais complexa a informação a ser transmitida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.
Outra vantagem do sistema é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite o acesso instantâneo à próxima pagina. O L.I.V.R.O. pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, basta abri-lo. Ele nunca apresenta "ERRO GERAL DE PROTEÇÃO", nem precisa ser reiniciado, embora se torne inútil caso caia no mar, por exemplo.
O comando "broxe" permite acessar qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda vem com o equipamento "índice" instalado, o qual indica a localização exata de grupos de dados selecionados.
Um acessório opcional, o marca-páginas, permite que você acesse o L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização, mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total e permite que funcionem em qualquer modelo ou marca de L.I.V.R.O. , sem necessidade de configuração. Além disso, qualquer L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso seu usuário deseje manter selecionados vários trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com o número de páginas.
Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O., através de anotações em suas margens. Para tanto, deve-se utilizar de um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada - L.A.P.I.S..
Portátil, durável e barato, o L.I.V.R.O. é apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro. Milhares de programadores desse sistema disponibilizaram vários títulos e upgrades para a utilização na plataforma L.I.V.R.O."


Autor: Millôr Fernandes

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Obras de Monteiro Lobato



1 – Reinações de Narizinho




O livro-mãe, a locomotiva do comboio, o puxa-fila. A saga do Picapau Amarelo começa. Aparecem Narizinho, Pedrinho, Emília, o Visconde, Rabicó, Quindim, Nastácia, o Burro Falante... e o milagre do estilo de Monteiro Lobato vai tramando uma série infinita de cenas e aventuras, em que a realidade e a fantasia, tratadas pela sua poderosa imaginação, misturam-se de maneira inextrincável - tal qual se dá normalmente na cabeça das crianças. O encanto que as crianças encontram nestas histórias vem sobretudo disso: são como se elas próprias as estivessem compondo em sua imaginativa, e na língua que todos falamos nessa terra - não em nenhuma língua artificial e artificiosa, mais produto da "literatura" do que da espontaneidade natural (1931).

2 – Viagem ao céu e O Saci




Pedrinho consegue obter uma boa dose do pó de pirlimpimpim, o pó mágico que transporta as criaturas a qualquer ponto do Espaço e a qualquer momento do Tempo. Distribuindo pitadas a Narizinho, Emília, Visconde, Nastácia e o Burro Falante, empreende a viagem ao céu astronômico. Vão parar na Lua, onde tia Nastácia vira cozinheira de São Jorge, enquanto os outros visitam Marte, Saturno e a Via Láctea, onde encontram o Anjinho de Asa Quebrada. Enquanto brincam no espaço sideral, vão aprendendo noções de astronomia. Só voltam de lá quando dona Benta os chama com um bom berro: "Já pra baixo, cambada!". Na segunda parte, "O Saci", desenvolve-se a estranha aventura vivida por Pedrinho que conseguiu pegar um saci com a peneira e conservá-lo preso numa garrafa. O diabinho de uma perna só proporciona ao garoto ensejo de conhecer a vida noturna e fantástica das matas - com visões da Mula Sem Cabeça, da Caapora, do Lobisomem, do Boitatá, e das principais criações mitológicas do nosso folclore (1932).

3 – Caçadas de Pedrinho e Hans Staden




Pedrinho organiza uma caçada de onça e sai vitorioso, como também sai vitorioso do ataque das onças e outros animais ao sítio de dona Benta. Depois encontra um rinoceronte, fugido de um circo do Rio de Janeiro, que se refugiara naquelas matas - um animal pacatíssimo do qual Emília tomou conta, depois de batizá-lo de Quindim. Completa o volume a narrativa feita por dona Benta das célebres aventuras de Hans Staden. Esse aventureiro alemão veio ao Brasil em 1559 e esteve nove meses prisioneiro dos tupinambás, assistindo a cenas de antropofagia e à espera de ser devorado de um momento para outro. Mas se salvou e voltou para a Alemanha. Lá publicou o seu livro: o primeiro que aparece com cenário brasileiro e um dos mais pungentes e vivos de todas as literaturas (1933).

4 – História do mundo para as crianças

Este livro de Monteiro Lobato teve uma aceitação excepcional. Nele o autor trata da evolução humana, e da história da humanidade no planeta, na organização clássica de todas as "histórias universais", mas escrita de modo extremamente atrativo, como um verdadeiro romance posto em linguagem infantil. As crianças lêem avidamente esse livro, como lêem as histórias da carochinha (1933).

5 – Memórias da Emília e Peter Pan



Emília, a terrível Emília, resolve contar suas memórias, ditando-as ao Visconde de Sabugosa. Das memórias de Emília sai o episódio, tão vivo e interessante, da visita das crianças inglesas ao sítio de dona Benta, trazidas pelo velho almirante Brown. Vieram para conhecer o Anjinho de Asa Quebrada, que Emília descobriu na Via Láctea, durante a Viagem ao Céu. Emília conta tudo - o que houve e o que não houve; e vai dando as suas ideiasinhas sobre tudo - ou a sua filosofia, que muitas vezes faz dona Benta olhar para tia Nastácia, e murmurar: "Já viu, que diabinha?". Na segunda parte, "Peter Pan", dona Benta recebe o famoso livro de John Barrie e o lê à sua moda para as crianças. Durante a leitura, às vezes interrompida por cenas provocadas pelos meninos e sobretudo pela Emília, ocorre o caso do desaparecimento da sombra da tia Nastácia. Quem furtou a sombra da pobre negra? O Visconde é posto a investigar, e como é um excelente Sherlock, descobre tudo: artes da Emília... (1936).

6 – Emília no país da gramática e Aritmética da Emília


Temos aqui uma das obras-primas de Monteiro Lobato e o mais original de quantos livros se escreveram até hoje. Lobato representa a língua como uma cidade, a cidade da Gramática, e leva para lá o pessoalzinho do sítio, montado no rinoceronte. E é esse paciente paquiderme o gramático que tudo mostra e explica. Há a entrevista de Emília com o venerando Verbo Ser, que é pura criação. E a reforma ortográfica, que Emília opera à força, com o rinoceronte ali a seu lado para sustentar suas decisões, constitui um episódio que não só encanta as crianças pela fabulação como ensina as principais regras da ortografia. Na Aritmética da Emília, Monteiro Lobato usa do mesmo recurso e consegue, a partir de matéria tão árida como a aritmética, transformar o velho Trajano numa linda brincadeira no pomar. O quadro-negro em que faziam contas a giz era o couro do Quindim... (1934).

7 – Geografia de Dona Benta

Em vez de estudar geografia nos livros, como fazem todas as crianças, o pessoalzinho do sítio embarca no navio "O terror dos Mares" e sai pelo mundo afora, a "viver" geografia. E a geografia, aquele estudo penoso e às vezes tão sem graça, torna-se uma aventura linda, com paradas em inúmeros portos e descidas em terra para ver as coisas mais notáveis de todos os países. É brincadeira das mais divertidas e preciosíssimo curso de geografia (1935)





8 – Serões de Dona Benta e História das invenções


Certo dia, dona Benta resolve ensinar física aos meninos, e em vários serões faz um verdadeiro curso da matéria, melhor que quando feito, penosamente, nos colégios. A física perde a sua secura. Os diálogos, os incidentes, as constantes perguntas dos meninos e as ocasionais maluquices da Emília, amenizam o processo do aprendizado (1937).

9 – D. Quixote das crianças

As famosas aventuras de D. Quixote de la Mancha e de seu gordo escudeiro, Sancho, são aqui contadas por dona Benta, naquele modo de contar histórias que é só dela. Emília entusiasma-se com o herói e em certo momento resolve imitá-lo - e armada dum cabo de vassoura, feito lança, investe contra as galinhas do quintal. E tantas faz, que tia Nastácia teve que agarrá-la e prendê-la numa gaiola, como aconteceu com o herói da Mancha na sua loucura... (1936).

10 – O poço do Visconde

Um livro interessante em que a geologia, sobretudo a geologia especializada do petróleo, é exposta ao vivo e com profundo conhecimento da matéria. O Visconde vira geólogo, faz conferências, ensina a teoria e depois passa à prática, com a abertura de poços de petróleo nas terras do sítio de dona Benta. E tão bem são conduzidos os estudos geológicos e geofísicos, que a Companhia Donabentense de Petróleo, fundada pelo pessoal do sítio, consegue abrir o primeiro poço de petróleo do Brasil: o Caraminguá nº 1. É o livro pelo qual Monteiro Lobato leva sua campanha pelo petróleo aos leitores infanto-juvenis, como havia feito com os adultos em O Escândalo do Petróleo (1937).

11 – Histórias de tia Nastácia

São as histórias mais populares do nosso folclore, contadas por tia Nastácia e comentadas pelos meninos. Nesses comentários, no fim de cada história, Pedrinho, Narizinho e Emília revelam-se bem dotados de senso crítico, e "julgam" as histórias da negra com muito critério e segurança. É um livro que "ensina" a arte da crítica - lição que pela primeira vez um escritor procura transmitir às crianças (1937).

12 – O Picapau Amarelo e A reforma da natureza


Dona Benta adquire todas as terras em redor do sítio para atender a uma solicitação prodigiosa: os personagens das fábulas resolveram morar lá. Branca de Neve com os sete anões, D. Quixote e Sancho Pança, Peter Pan e os meninos perdidos do País do Nunca, a Gata Borralheira, todas as princesas e príncipes encantados das histórias da carochinha, os heróis da mitologia grega, tudo, tudo que é criação da Fábula muda-se com armas e bagagens para o Picapau Amarelo, levando os castelos, os palácios, as casinhas mimosas como a de Chapeuzinho Vermelho e até os mares. Peter Pan transporta pra lá até o Mar dos Piratas. Acontecem maravilhas; mas no casamento de Branca de Neve com o príncipe Codadad, o maravilhoso sítio é assaltado pelos monstros da Fábula - e no tumulto tia Nastácia desaparece...(1939).

13 – O Minotauro

Neste livro desenrolam-se as aventuras de Pedrinho, do Visconde e da Emília na Grécia Heróica, para onde foram em procura de tia Nastácia. Acontecem mil coisas, e afinal descobrem o paradeiro da negra, graças à ajuda do Oráculo de Delfos. Estava presa no Labirinto de Creta, nas unhas do Minotauro! Mas tia Nastácia já havia domesticado o monstro, à força de bolinhos e quitutes; deixara-o tão gordo que os meninos puderam entrar no Labirinto e salvá-la sem que ele, espapaçado no trono, pensasse em reagir...(1937).

14 – A chave do tamanho

Talvez o mais original dos livros de Monteiro Lobato. Emília, furiosa com a Segunda Guerra Mundial, resolve acabar com ela. Como? Indo à Casa das Chaves, lá nos confins do mundo, e "virando" a Chave da Guerra. Mas comete um erro e em vez da Chave da Guerra vira a Chave do Tamanho, isto é, a chave que regula o tamanho das criaturas humanas. Em conseqüência, subitamente, todas as criaturas humanas do mundo inteiro "perdem o tamanho", ficam de dois, três centímetros de estatura - e Lobato conta o que se seguiu. Trata-se de um livro rigorosamente lógico, e que transmite às crianças o senso da relatividade de todas as coisas (1942).

15 – Fábulas


Neste livro Monteiro Lobato reescreve as velhas fábulas de Esopo e La Fontaine, mas de modo comentado. A novidade do livro está justamente nestes comentários, em que as fábulas são criticadas com a maior independência - e Emília chega a ponto de "querer linchar" uma delas, cuja lição de moral pareceu-lhe muito cruel. Um livro encantador, em que o gênio dos velhos fabulistas é singularmente realçado pelos diálogos entre os meninos, que a inventiva de Monteiro Lobato vai criando com a maior agudeza e frescura (1922).

16/17 – Os doze trabalhos de Hércules


Pela primeira vez em todas as literaturas, os famosíssimos trabalhos de Hércules - o mais belo romance fantástico da Antigüidade Clássica - são narrados à maneira moderna - e vivificados pela colaboração de Pedrinho, Emília e o Visconde de Sabugosa. Esses três heroisinhos modernos vão para a Grécia, a fim de acompanhar as façanhas de Hércules - e o fazem tomando parte nelas e muitas vezes salvando o grande herói. Das aventuras ressalta a lição moral: o valor e a superioridade da inteligência expontânea, viva como azougue e sempre vitoriosa (1944).

quinta-feira, 10 de abril de 2008

MONTEIRO LOBATO

BIOGRAFIA


Primeiras letras: Lobato estudante



José Bento Monteiro Lobato estreou no mundo das letras com pequenos contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista, que freqüentou em Taubaté, cidade do Vale do Paraíba onde nasceu, em 18 de abril de 1882.No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Colaborou em publicações dos alunos, vencendo um concurso literário promovido em 1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto. Morou na república estudantil do Minarete, liderou o grupo de colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um jornalzinho de Pindamonhangaba, que tinha como título o mesmo nome daquela moradia de estudantes. Nessa fase de sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria vida afora.

1905 - 1910
Lobato volta ao Vale do Paraíba

Diploma nas mãos, Lobato voltou a Taubaté. E de lá prosseguiu enviando artigos para um jornal de Caçapava, O Combatente. Nomeado promotor público, mudou-se para Areias, casou-se com Purezinha e começou a traduzir artigos do Weekly Times para O Estado de S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal Gazeta de Notícias, também do Rio de Janeiro, assim como na Tribuna de Santos.

1911 - 1917
Lobato fazendeiro e jornalista


A morte súbita do avô determinou uma reviravolta na vida de Monteiro Lobato, que herdou a Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em projetos agrícolas audaciosos.Mas não se afastou da literatura. Observando com interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O Estado de S. Paulo, denunciando as queimadas no Vale do Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve grande repercussão quando saiu, em novembro de 1914. Um mês depois, redigiu Urupês, no mesmo jornal, criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo. Preguiçoso e adepto da "lei do menor esforço", Jeca era completamente diferente dos caipiras e indígenas idealizados pelos romancistas como, por exemplo, José de Alencar. Esses dois artigos seriam reproduzidos em diversos jornais, gerando polêmica de norte a sul do país. Não demorou muito e Lobato, cansado da monotonia do campo, acabou vendendo a fazenda e instalando-se na capital paulista.

1918 - 1925
Lobato editor e autor infantil


Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato virou definitivamente um escritor-jornalista. Colaborou, nesse período, em publicações como Vida Moderna, O Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em O Estado de S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista da Revista do Brasil, lançada em janeiro de 1916, que o empolgou. Não teve dúvida: comprou-a em junho de 1918 com o que recebera pela Buquira. E deu vez e voz para novos talentos, que apareciam em suas páginas ao lado de gente famosa.


O editor

A revista prosperou e ele formou uma empresa editorial que continuou aberta aos novatos. Lançou, inclusive, obras de artistas modernistas, como O homem e a morte, de Menotti del Picchia, e Os Condenados, de Oswald de Andrade. Os dois com capa de Anita Malfatti, que seria pivô de uma séria polêmica entre Lobato e o grupo da Semana de 22: Lobato criticou a exposição da pintora no artigo “Paranóia ou mistificação?”, de 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês", dizia Lobato, que, para provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como um produto de consumo como outro qualquer, cuidando de sua qualidade gráfica e adotando capas coloridas e atraentes. O empreendimento cresceu e foi seguidamente reestruturado para acompanhar a velocidade dos negócios, impulsionada ainda mais por uma agressiva política de distribuição que contava com vendedores autônomos e com vasta rede de distribuidores espalhados pelo país. Novidade e tanto para a época, e que resultou em altas tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para dedicar-se à editora em tempo integral. E, para poder atender às crescentes demandas, importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros, Lobato não conseguia parar.


O autor infantil

Escreveu, nesse período, sua primeira história infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o livrinho, lançado no Natal de 1920, fez o maior sucesso. Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do planeta. Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional. E fez mais: misturou todos eles com elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de Alice. Mas Monteiro Lobato também fez questão de transmitir conhecimento e idéias em livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela em que se aprende brincando.


Crise e falência

Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que enfrentar uma série de obstáculos. Primeiro, foi a Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924, paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, causando grande prejuízo. Seguiu-se uma inesperada seca, que decorreu em um corte no fornecimento de energia. O maquinário gráfico só podia funcionar dois dias por semana. E numa brusca mudança na política econômica, Arthur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil. A conseqüência foi um enorme rombo financeiro e muitas dívidas. Só restou uma alternativa a Lobato: pedir a autofalência, apresentada em julho de 1925. O que não significou o fim de seu ambicioso projeto editorial, pois ele já se preparava para criar outra empresa. Assim surgiu a Companhia Editora Nacional. Sua produção incluía livros de todos os gêneros, entre eles traduções de Hans Staden e Jean de Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio, reimprimindo nela sua marca inconfundível: fazer livros bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme sucesso de público.

1925 - 1927
Lobato no Rio de Janeiro


Decretada a falência da Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato, o escritor mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por dois anos, até 1927. Já um fã declarado de Henry Ford, publicou sobre ele uma série de matérias entusiasmadas em O Jornal. Depois passou para A Manhã, de Mario Rodrigues. Além de escrever sobre variados assuntos, em A Manhã lançou O Choque das Raças, folhetim que causou furor na imprensa carioca, logo depois transformado em livro. Do Rio Lobato colaborou também com jornais de outros estados, como o Diário de São Paulo, para o qual em 20 de março de 1926 enviou "O nosso dualismo", analisando com distanciamento crítico o movimento modernista inaugurado com a Semana de 22. O artigo foi refutado por Mário de Andrade com o texto "Post-Scriptum Pachola", no qual anunciava sua morte.

1927 - 1931
Lobato em Nova Iorque



Em 1927, Lobato assumiu o posto de adido comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados Unidos, deixando a Companhia Editora Nacional sob o comando de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Durante quatro anos, acompanhou de perto as inovações tecnológicas da nação mais desenvolvida do planeta e fez de tudo para, de lá, tentar alavancar o progresso da sua terra. Trabalhou para o estreitamento das relações comerciais entre as duas economias. Expediu longos e detalhados relatórios que apontavam caminhos e apresentavam soluções para nossos problemas crônicos. Falou sobre borracha, chiclete e ecologia. Não mediu esforços para transformar o Brasil num país tão moderno e próspero como a América em que vivia.

1931 - 1939
A luta de Lobato por ferro e petróleo




Personalidade de múltiplos interesses, Lobato esteve presente nos momentos marcantes da história do Brasil. Empenhou seu prestígio e participou de campanhas para colocar o país nos trilhos da modernidade. Por causa da Revolução de 30, que exonerou funcionários do governo Washington Luís, ele estava de volta a São Paulo com grandes projetos na cabeça. O que faltava para o Brasil dar o salto para o futuro? Ferro, petróleo e estradas para escoar os produtos. Esse era, para ele, o tripé do progresso.

1940 - 1944
Lobato na mira da ditadura


Mas as idéias e os empreendimentos de Lobato acabaram por ferir altos interesses, especialmente de empresas estrangeiras. Como ele não tinha medo de enfrentar adversários poderosos, acabaria na cadeia. Sua prisão foi decretada em março de 1941, pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN). Mas nem assim Lobato se emendou. Prosseguiu a cruzada pelo petróleo e ainda denunciou as torturas e maus-tratos praticados pela polícia do Estado Novo. Do lado de fora, uma campanha de intelectuais e amigos conseguiu que Getúlio Vargas o libertasse, por indulto, após três meses em cárcere. A perseguição no entanto continuou. Se não podiam deixá-lo na cadeia, cerceariam suas idéias. Em junho de 1941, um ofício do TSN pediu ao chefe de polícia de São Paulo a imediata apreensão e destruição de todos os exemplares de Peter Pan, adptado por Lobato, à venda no Estado. Centenas de volumes foram recolhidos em diversas livrarias, e muitos deles chegaram a ser queimados.

1945 - 1948
Os últimos tempos de Lobato



Lobato estava em liberdade, mas enfrentava uma das fases mais difíceis de sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho, presenciou o processo de liquidação das companhias que fundou e, o que foi pior, sofreu com a censura e atmosfera asfixiante da ditadura de Getúlio Vargas. Aproximou-se dos comunistas e saudou seu líder, Luís Carlos Prestes, em grande comício realizado no Estádio do Pacaembu em julho de 1945. Partiu para a Argentina, após associar-se à editora Brasiliense e lançar suas Obras Completas, com mais de 10 mil páginas em trinta volumes das séries adulta e infantil. Regressou de Buenos Aires em maio de 1947, para encontrar o país às voltas com os desmandos do governo Dutra. Indignado, escreveu Zé Brasil. Nele, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que Lobato depois descobriu vítima da miséria, vira um trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no latifúndio e na distribuição injusta da propriedade rural seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta, mas seu criador já estava cansado de tantas batalhas. Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia 4 de julho de 1948, virou “gás inteligente” - o modo como costumava definir a morte. Foi-se aos 66 anos de idade, deixando imensa obra para crianças, jovens e adultos, e o exemplo de quem passou a existência sob a marca do inconformismo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

REPORTAGEM

Para que a juventude leia mais



Pesquisadora fala sobre o trabalho com a leitura nas escolas e a importância de o professor ser ele mesmo um leitor.



Meire Cavalcante



A leitura é um mundo. Talvez seja ela o mundo. Dar à criança a chave que abre as portas desse universo é permitir que ela seja informada, autônoma e, principalmente, dona dos rumos de sua própria vida. Afinal, não é à toa que se fala tanto em uso social da leitura e da escrita. E para despertar nos pequenos o gosto pela literatura é fundamental que os professores sejam eles mesmos grandes entusiastas dos livros. É o que defende Regina Zilberman, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A pesquisadora será uma das palestrantes do Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura - Nos Caminhos da Literatura, que se realizará a partir de amanhã em São Paulo. O evento é uma iniciativa do Instituto C&A e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).


Leia a seguir uma entrevista exclusiva com Regina sobre a leitura na escola. E não deixe de acompanhar, aqui no site, nos dias 22, 23 e 24 de agosto, a cobertura on-line do evento.



O que já pode ser considerado como premissas para o docente no trabalho com a leitura?


Regina Zilberman: Parece óbvio o que vou dizer, mas a premissa é a de que o professor seja um leitor. Não apenas um indivíduo letrado, mas alguém que, com certa freqüência, lê produtos como jornais, revistas, bulas de remédio, histórias em quadrinho, romances ou poesias. O professor precisa se reconhecer como leitor e gostar de se entender nessa condição. Depois, seria interessante que ele transmitisse aos alunos esse gosto, verificando o que eles apreciam. Esse momento é meio difícil, pois, via de regra, crianças e jovens tendem a rejeitar a leitura porque ela é confundida com o livro escolar e a obrigação de aprender. Se o professor quebrar esse gelo, acredito que conseguirá andar em frente. A terceira etapa depende de a escola, por meio da biblioteca, da ação do professor e do interesse dos alunos, disponibilizar livros para todos. Mas as publicações não podem ser produzidas pelos alunos. Caso contrário, impede-se o reconhecimento do livro como um produto industrial, com características específicas e dentro do qual existe a matéria para leitura. O aluno precisa reconhecer que essa matéria é oriunda de um terceiro, o autor, com o qual o leitor dialoga. Não existe fórmula para o trabalho com leitura em sala de aula, mas há uma série de pré-condições, como as que já citei e que considero mínimas. Precisamos, porém, reconhecer como fundamental também a valorização do trabalho do professor e o oferecimento de condições favoráveis de ensino, como segurança nas escolas públicas, livros na biblioteca, salas de aula equipadas, etc.. Essas são igualmente premissas, que não dependem do professor, mas de políticas públicas que tenham a Educação como foco principal.



O que já se sabe quando o assunto é leitura na escola?


Regina Zilberman: Há uma gama variada de pesquisas sobre o assunto, que começam com as questões de aquisição da escrita, estendem-se à psicolingüística e à sociolingüística e chegam à teoria da literatura, que desenvolveu uma ampla área de investigação relacionada aos processos de leitura e de formação do leitor. A escola, nesse caso, pode ser entendida tanto como o local onde se dá a aprendizagem da leitura e a preparação para o consumo de obras impressas, quanto como o espaço do desencantamento e da perda da magia trazida da infância, já que impede o contato direto com o mundo da oralidade, onde se fazia a transmissão original de histórias (contos de fadas, poemas, cantigas de ninar, etc.). A leitura na escola constitui um amplo campo de investigação porque, nas atuais condições de aprendizagem e ensino, é o lugar onde o indivíduo pode amadurecer intelectualmente ou retrair-se, evitando (ou minimizando) seus intercâmbios com o universo da cultura.



O que ainda precisa ser mais bem investigado nessa área?


Regina Zilberman: Acho que, no âmbito dos estudos literários, há ainda margem para estudar o impacto da leitura literária na formação do leitor, especialmente entre os jovens que freqüentam o Ensino Médio, território ainda não suficientemente mapeado nas pesquisas vigentes.



O que leva o professor a buscar um evento como este Seminário, que tratará de leitura?


Regina Zilberman: Eventos sobre leitura são bastante procurados por professores, pois eles se sentem bastante inseguros em relação à sua prática docente. Um congresso como o de leitura que se realiza na Universidade Estadual de Campinas, a cada dois anos, reúne cerca de cinco mil pessoas. Isso sinaliza igualmente o desejo de aprender por parte daqueles que ensinam. Além disso, há o interesse em socializar experiências bem sucedidas, razão porque é preciso estabelecer, em tais eventos, o momento de ouvir e o momento de falar. Nesses eventos se propicia o diálogo com o público e, sobretudo, a discussão sobre as alternativas que os professores encontram no trabalho com seus alunos.




No evento, o tema de sua apresentação será o Ensino Médio e a formação do leitor. Que tipo de leitores temos nesse nível de ensino?


Regina Zilberman: Os estudantes de classe média urbana chegam muito jovens ao nível médio. Mas lá também chegam alunos que têm apenas a noite para freqüentar a escola, já que trabalham durante o dia. Assim, há situações bastante distintas. No primeiro caso, não há grande diferença entre o aluno do oitavo ano do Ensino Fundamental e o do primeiro ano do Ensino Médio. Mesmo assim, há um amadurecimento nesse período que obriga o professor a lidar com uma situação híbrida, tendo de escolher livros que representem essa passagem (publicações recentes e que abordem temas associados a problemas do mundo contemporâneo). O professor provavelmente elegerá obras de maior estofo (ou as constantes de listas de vestibular) quando o aluno estiver no segundo ano do Ensino Médio. No segundo caso, a condição é outra: o aluno trabalhador é maduro, está preocupado com o serviço diário e não tem muitas oportunidades para ler e estudar.O espaço de leitura é o tempo da sala de aula e, nesse intervalo, o professor terá de ensaiar suas estratégias de ensino.



Qual a especificidade da leitura de textos informativos?



Regina Zilberman: Quem lê bem um conto ou um poema, lê bem uma notícia de jornal ou um manual de história ou de química. Se isso quer dizer que compete ao professor de língua e de literatura preparar bem o aluno para a leitura de qualquer tipo de texto, significa também que a aprendizagem da leitura envolve todo o corpo docente, e que um bom professor de História ou de Química ensinará os estudantes a ler adequadamente o material escrito onde está o conteúdo de sua matéria.

FONTE: REVISTA NOVA ESCOLA

Reportagem

Remédios para o professor e a Educação




O alívio para problemas como estresse e dores musculares - as maiores causas de afastamento da sala de aula- está nos mesmos fatores que garantem um ensino de qualidade.
Autor(Amanda Polato- Colaboraram Arthur Guimarães e Brígida Rodrigues)


O trabalho deve ser fonte de realização e prazer, mas pode causar sofrimento e enfermidades. Pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope feita em 2007 com 500 professores de redes públicas das capitais revelou que mais da metade dos entrevistados sofre de estresse. Entre as queixas freqüentes estão dores musculares, citadas por 40% deles. Preocupa também o fato de 40% terem declarado sofrer de forma regular alguma doença ou mal-estar. Esse mal-estar docente, tão comum, ganhou até definição do pesquisador espanhol José Manuel Esteve: "Algo que sabemos que não vai bem, mas não somos capazes de definir o que não funciona e por quê".
Nos casos mais sérios, os sintomas acabam afastando os profissionais da sala de aula. No estado de São Paulo a maior rede do país, com 250 mil professores, são registradas 30 mil faltas por dia. Só em 2006 foram quase 140 mil licenças médicas, com duração média de 33 dias. O custo anual para o governo estadual chega a 235 milhões de reais - correspondente ao valor a ser destinado pelo Ministério da Educação (MEC) para construir, mobiliar e equipar 330 escolas de Educação Infantil em 2008. O problema se repete pelo país e faz com que as doenças de quem leciona tornem enfermo o sistema de ensino. "Em todas as redes o absenteísmo preocupa porque os prejuízos para o aprendizado são muito grandes", diz Cleuza Repulho, ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e consultora de Educação Básica do MEC. O tema vem despertando a atenção de pesquisadores. Tufi Machado Soares, da Universidade Federal de Juiz de Fora, estudou o impacto das faltas na rede mineira e constatou que os alunos da 4ª série que tinham mestres assíduos alcançaram média 15 pontos maior que a dos demais em Língua Portuguesa no Programa de Avaliação da Educação Básica de 2002. "Todo mundo perde com os afastamentos. Mas é importante que o direito de estudar acompanhe o direito de ter condições para oferecer uma boa aula", defende Roberto Franklin de Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. Sem dúvida, o que não pode é a falta virar a única estratégia para lidar com as questões de saúde. "Entender o que causa as doenças ou contribui para que elas se manifestem requer olhar para a sociedade, para o sistema educacional como um todo e para a relação com o trabalho", avalia Iône Vasques-Menezes, da Universidade de Brasília. Soluções para essa epidemia têm sido discutidas e colocadas em prática em diferentes níveis: secretarias criam programas de prevenção, escolas reorganizam processos e educadores buscam formas criativas de enfrentar as dificuldades do dia-a-dia. Todas elas, além de contribuir para o bem-estar e o desempenho do profissional, têm impacto positivo na qualidade da Educação. Os "remédios" prescritos - tanto no sentido de prevenção quanto no tratamento - são gestão, formação, organização do tempo, trabalho em equipe, relacionamento com os alunos, infra-estrutura, currículo e valorização social. Nenhum combate sozinho todos os sintomas, mas, associados, eles podem formar um coquetel eficaz para acabar com a situação de impotência diante de um sistema tão doente.


MUDANÇAS NA REDE
- Em Itupiranga, a diretora de ensino Rosanea apresenta as diretrizes para os coordenardores
Apoio da direção traz segurança Uma gestão democrática e participativa é capaz de alterar as condições de trabalho dentro da escola, como relatam Analía Soria Batista e Patrícia Dario El-Moor no livro Educação: Carinho e Trabalho (Ed. Vozes). Instituições com maior participação dos pais e da comunidade têm mais materiais de apoio ao ensino e são mais limpas, por exemplo, o que contribui para melhorar o bem-estar de quem ali leciona. A presença de diretores e coordenadores pedagógicos que dêem suporte efetivo equipe escolar e se co-responsabilizem pelos resultados do ensino é, igualmente, fator de aprimoramento das condições profissionais. Nesses profissionais estão as respostas para dificuldades que vão de questões pedagógicas a problemas de relacionamento. É o que mostra à pesquisa Saúde e Apoio Social no Trabalho, realizada em 2006 por Rodrigo Manoel Giovanetti, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. "O apoio social tem efeitos moderadores do estresse e da síndrome do esgotamento, além de promover satisfação e produtividade", explica Giovanetti. As investigações em escolas públicas levaram o pesquisador a concluir que, quando o diretor deixa de focar a atuação nas questões burocráticas, ele consegue tornar o dia-a-dia menos desgastante para todos. Por sua vez, os coordenadores, que também ocupam posição de liderança, têm papel fundamental no acompanhamento da prática em sala. Essa ação tem o poder de minimizar as angústias do docente diante das adversidades. Em Itupiranga, a 630 quilômetros de Belém, uma mudança na gestão da Educação foi implantada tendo como foco a qualificação dos coordenadores pedagógicos. Três anos atrás, nem todos os 440 professores podiam contar com a ajuda desses profissionais. Desde então há encontros quinzenais para que eles recebam formação continuada com supervisão do Programa Além das Letras, do Instituto Avisa Lá. De acordo com a diretora de Ensino Rosanea do Nascimento de Lucena, antes os coordenadores não conseguiam desempenhar sua principal tarefa: organizar atividades de estudo com a equipe. "A estratégia uniu a rede e deu um suporte de conteúdo para os educadores."Os resultados são vistos também de forma significativa na saúde do grupo. Ainda há casos de estresse e depressão entre os mais velhos, que contam com acompanhamento psicológico. "Os novos dificilmente têm problemas por sobrecarga ou frustração, já que recebem apoio à prática."


VIVA CAPACITAÇÃO!
Liliane, de Petropolis, se livrou da angústia e do estresse em sala de aula com estudos na própria escola.
Bem-estar para quem se prepara Os conhecimentos sobre didática avançam; a necessidade de se manter atualizado com relação aos conteúdos é constante; as salas de aula estão se tornando inclusivas; a sociedade exige cada vez mais da escola; e, por fim, há um abismo entre a formação inicial e a prática do Magistério. A pressão e a ansiedade para se adequar a tudo isso muitas vezes dão origem a doenças, mal-estar e tensão. "O estresse aumenta quando a pessoa faz algo que não motiva. Por isso, temos investido em capacitação para dar melhor condição ao educador para se desenvolver e desempenhar sua função com prazer", afirma Marcos Monteiro, secretário-adjunto de Gestão do estado de São Paulo. Na rede paulista, na qual é altíssimo o absenteísmo por problemas de saúde, está sendo implantado um sistema de bonificação que terá entre os indicadores a assiduidade da equipe e o nível de aprendizagem dos alunos. De modo geral, os mais inexperientes não conseguem dar conta das situações cotidianas, e muito menos das imprevistas. "Eles tendem a controlar a turma com gritaria e ofensas", afirma Gisele Levy, que concluiu mestrado sobre o tema na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no ano passado. Ela identificou que 70% dos quadros de cinco escolas de Niterói, a 20 quilômetros da capital fluminense, apresentavam sintomas da síndrome de burnout, caracterizada por exaustão física e emocional. Em início de carreira, muitos profissionais, de acordo com Gisele, se inibem e acabam dando aulas de forma mecanizada. Em situações como essa é improvável que os estudantes avancem. Quem encontra respostas adequadas aos dilemas da profissão consegue manter-se equilibrado e alcançar sucesso. Foi o que ocorreu com Liliane da Silva Oliveira Schanuel, de Petrópolis, a 68 quilômetros do Rio de Janeiro. Até 2006 ela trabalhava em uma escola em que não tinha ajuda para se aprimorar. Não dava para saber se eu estava indo no caminho certo. Era cansativo e estressante. Hoje ela dá aulas para a 3ª série na EM São José do Caetitu, onde a coordenação pedagógica é atuante. Lemos e debatemos sobre tudo o que nos cerca. O aprimoramento me trouxe tranqüilidade. Para Rosilene Ribeiro, da Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis, a formação continuada é tão importante quanto a inicial. "Ela é útil para transformar questões cotidianas da prática em objetos de análise e reflexão". Com doutorado concluído na área, Rosilene atesta: "Os docentes planejam e avaliam com maior segurança". Aulas mais bem preparadas têm impacto no desempenho da turma e, por conseqüência, na satisfação profissional.

UMA NOVA VIDA
- Para pôr fim a depressão, Valéria, que leciona em Osasco diminuiu as aulas e aumentou o lazer
Horários para estudo e diversão Uma boa forma de reduzir o cansaço físico e mental e ainda melhorar os resultados de aprendizagem dos estudantes é ter tempo para estudar, planejar e reunir-se com os colegas sem esquecer os momentos de lazer. De acordo com a pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope, os professores gastam em média 59 horas por semana em atividades ligadas ao trabalho 50% desse tempo em sala de aula. Metade deles tem menos de seis horas por semana de lazer. Esses são os que mais apresentam sintomas de estresse como insônia e dores de cabeça freqüentes. Há três anos, Valéria Hengleluz, que leciona em duas escolas de Osasco, na Grande São Paulo, teve diagnóstico de depressão. O maior motivo, acredita, foi a carga pesada de trabalho - 70 aulas semanais em até três turnos. Quando estava em casa, ela sentia que tudo melhorava. Mas, quando o momento de retomar as aulas se aproximava, ficava aflita. Em cinco ocasiões, chegou ao portão da escola e não conseguiu atravessá-lo. "Eu tinha uma sensação de perda total, me sentia inútil, achava que ia morrer." Valéria tirou licença médica e se afastou da EE Professor José Jorge e da escola particular em que lecionava. Para sair da crise e voltar a dar aulas, sua grande paixão, mudou a rotina: descansa mais, lê, assiste a filmes e faz caminhadas. "Antes eu quase não saía de casa. Agora, não recuso um convite para ir ao cinema." Ela definiu um limite de 40 aulas semanais de carga horária e, para se adaptar ao salário menor, reduziu as despesas pessoais. De acordo com Beatriz Cardoso, docente da Universidade de São Paulo e coordenadora executiva do Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo, a gestão do tempo não está só nas mãos do professor. Essa tarefa depende também das condições oferecidas a ele pela rede. "Nesse nível, deve-se, em primeiro lugar, optar pelo que potencializa a aprendizagem e, em segundo, considerar outras particularidades da rotina escolar", define Beatriz. E aí estão incluídas as horas de trabalho pedagógico remuneradas, essenciais para a qualidade da prática. O poder do apoio dos colegas Maria Elizabeth Barros de Barros, da Universidade Federal do Espírito Santo, estudou as estratégias encontradas pelos docentes a fim de promover a saúde o que, para ela, não é a ausência de doenças, mas a crença na possibilidade de acabar com o que faz sofrer. "O mais eficaz é apostar na boa relação entre os professores e construir o sentimento de grupo", aponta. Por sua importância, o trabalho em equipe é um tema que deveria ser mais valorizado pelos gestores na opinião de Beatriz Cardoso. "É preciso pensar em meios e condições para que ele seja o mais produtivo possível." Quando há momentos de conversa e atividades coletivas, os profissionais e suas ações ficam mais fortalecidos. "Quem tenta fazer algo diferente sozinho acaba não tendo o respaldo dos colegas ou a orientação dos mais experientes", diz Maria Elizabeth. Se a troca de informações se torna prioridade no dia-a-dia da escola, surge em cada um o sentimento de que suas idéias são úteis para a produção social. Dessa forma, a prática pedagógica também é enriquecida - e os alunos só têm a ganhar. Na EMEF Professora Altamira Amorim Mantesi, em Araraquara, a 277 quilômetros de São Paulo, o trabalho em equipe faz parte do cotidiano. "O planejamento fica bem melhor com a troca de experiências", conta Bia Pinto César, que leciona para o 5º ano. "Eu não gosto de preparar aulas baseada apenas em um livro ou uma fonte. É ótimo quando uma colega me mostra um material novo que eu não havia encontrado em minhas pesquisas. Isso faz toda a diferença na qualidade do ensino." Bia considera o momento também um grande alívio para as pressões e cobranças do dia-a-dia: "Tenho muito mais segurança. Sem esse diálogo constante com minhas companheiras, seria bem mais difícil". A pesquisadora Maria Elizabeth acredita que no ambiente escolar pode haver espaço para choro e queixas - que aliviam a tensão cotidiana - desde que isso se torne algo positivo. "A queixa deve se transformar em alternativas para enfrentar as adversidades. Só reclamar leva a mais mal-estar", ressalta. O melhor meio de manter a paz A dificuldade de relacionamento com crianças e jovens em classe é a maior queixa dos professores, como mostra a pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope. A falta de disciplina foi citada como o principal problema em sala de aula por 46% dos entrevistados. Maristela Rautta, de São Miguel do Oeste, a 693 quilômetros de Florianópolis, teve muitos momentos de estresse exatamente por causa disso. No ano passado, a professora do Grupo Escolar Municipal São João Batista de la Salle encontrou uma turma de crianças de 7 anos muito agitada. Elas subiam nas mesinhas e brigavam constantemente entre si. "A relação com as crianças é condição para a docência. Se ela está deteriorada, como ensinar? Essa é uma das razões do grande mal-estar entre os educadores", explica Inês Teixeira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para Yves de La Taille, da Universidade de São Paulo, o desrespeito é um fenômeno discutido no mundo todo e ultrapassa os limites da escola. "A ausência do senso moral, da idéia de que o outro existe e eu preciso respeitá-lo, é geral." Um dos caminhos, segundo ele, seria a escola discutir princípios de forma sistemática para que os alunos entendessem o porquê das regras. Maristela seguiu linha semelhante e encontrou uma solução para a indisciplina dentro da sala com o apoio da coordenadora, Clarisse Thums, e de toda a equipe. Ela estabeleceu regras, levou as crianças a discutir seus sentimentos em relação aos pais e à escola e a refletir sobre as atitudes de convivência. Além disso, Maristela também mudou sua forma de dar aulas - esse resgate da autoridade pelo conhecimento, segundo De La Taille, é outro ponto essencial nas relações entre estudantes e mestres. "Muitos alunos não avançavam no aprendizado, e alguns não estavam alfabetizados. Agora eu procuro desafiá-los o tempo todo. Hoje me sinto muito bem e uma profissional bem melhor", diz ela.

REGRAS PARA TODOS
- A indisciplina acabou na sala de Maristela, de São Miguel do Oeste, depois que atitudes foram discutidas.
Boas condições, bom desempenho O espaço da escola afeta tanto o cotidiano dos professores quanto o dos alunos. A precariedade das condições físicas dificulta as aulas, tornando-as desgastantes e reduzindo a produtividade. Mobiliário inadequado ou classes sem boa ventilação, iluminação ou acústica podem causar ou agravar problemas de saúde, como os osteomusculares ou de voz. Rejane Cristina dos Santos, da EE Imaculada Conceição, em Pedro Leopoldo, a 46 quilômetros de Belo Horizonte, sofreu em razão das condições inadequadas do ambiente e do mau uso que fazia da voz falava alto e permanecia em contato com pó de giz por tempo demasiado. No ano passado, ficou completamente afônica durante 15 dias. Passado o susto, ela se valeu da criatividade para voltar à sala de aula: construiu painéis em que escreve com canetão e usa microfone. Iniciativas individuais como a de Rejane são relevantes, mas cabe aos gestores da rede e da escola cuidar da questão. Há oito anos, Joice Salete Silverio Pires, da EM Marumbi, em Curitiba, começou a acordar sem voz. O problema poderia ter se agravado se a diretora não a tivesse encaminhado ao programa municipal de qualidade vocal. Ela fez um tratamento fonoaudiológico e operou nódulos nas cordas vocais. "Depois disso, a prefeitura disponibilizou um microfone para eu usar em classe", conta Joice. Além de seu bem-estar, garantiu-se, assim, a qualidade do ensino que ela ministra.
Também visando à aprendizagem, o Tocantins está definindo padrões de qualidade do ambiente escolar que incluem conforto acústico, ventilação, temperatura e iluminação adequadas e acessibilidade. "Criamos políticas para reduzir os riscos para alunos e professores, pensando em saúde e Educação de forma articulada", diz Maria Auxiliadora Rezende Seabra, secretária de Educação e Cultura.

NADA DE GRITOS E PÓ - Rejane, de Pedro Leopoldo, usa painéis que dispensam giz e microfone para curar os problemas de voz.


Um rumo para a prática Ter clareza sobre o que ensinar é condição para que os docentes executem bem sua função em classe. Apresentar esses conteúdos é papel das diretrizes curriculares. "Quando há referências e metas, apontando caminhos para os quais se deve ir o professor toma decisões com maior segurança e isso tem impacto na qualidade da Educação", afirma Neide Nogueira, da equipe responsável pela elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Com a certeza de ter as condições necessárias para desempenhar bem sua função, o educador sofre menos. Os PCNs foram elaborados com o objetivo de proporcionar uma formação ampla ao aluno, torná-lo alguém que põe o conhecimento em uso na vida social. Cada secretaria deve se apropriar dessas referências e adequá-las ao contexto local. "Cabe às escolas, por sua vez, criar um projeto pedagógico que defina priorida- des e ações", diz Neide. O ideal é que elas montem um currículo completo para que a equipe docente saiba a fundamentação teórica adotada, o histórico do ensino das disciplinas, os objetivos de aprendizagem de cada ciclo ou série, os conteúdos que devem ser trabalhados e as orientações didáticas. Para se tornar eficaz, no entanto, um currículo precisa ser elaborado com a participação de todos os envolvidos no processo educativo. Diretrizes definidas nos gabinetes e apenas apresentadas a quem deve segui-las trazem descontentamento e mais angústia. Preocupada em atualizar a proposta curricular que tinha até então, a equipe da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande decidiu estender a discussão a todos os gestores, às equipes técnicas e aos professores, o que deu origem a um novo documento, já em fase de consolidação. "Houve encontros e debates nas escolas, até com a comunidade e os estudantes, e um forte intercâmbio", conta Leusa de Melo Secchi, técnica da divisão de Educação Infantil da rede. Para ela, o mais significativo da experiência é poder socializar conhecimentos e dividir responsabilidades. A definição coletiva do trabalho dá a tranqüilidade de lecionar sabendo exatamente onde pisar. "Todos têm o compromisso com o que foi produzido e até com os possíveis erros."

RECEITA FINLANDESA
- No país primeiro colocado no Pisa, os professores têm formação de qualidade e reconhecimento
Satisfação vem com prestígio O apoio da sociedade aos educadores está diminuindo. É o que sente um terço dos professores brasileiros, segundo a pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope. Isso acaba afetando seu bem-estar e seu desempenho em sala de aula. "A progressiva desqualificação e o não-reconhecimento social potencializam o sofrimento dos docentes", assinala Mary Yale Rodrigues Neves, da Universidade Federal da Paraíba. Quando se fala em valorização social, o sentido não deve ser apenas retórico, o que inclui homenagens e discursos em favor do Magistério. Essa é a opinião de Inês Teixeira, da UFMG: "A valorização tem de ser real. Profissional reconhecido é aquele que dispõe de boas condições de exercer sua função no dia-a- dia, salário compatível com o que se espera dele e políticas públicas que cuidem de sua formação e sua saúde". A Finlândia, o país com a melhor Educação do mundo segundo o Pisa, avaliação feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é um lugar em que a carreira docente está entre as mais concorridas e desfruta de grande prestígio. Lá, as principais apostas do sistema educacional são um currículo amplo e a formação docente. "A escola é o reflexo da sociedade na qual está inserida", conclui Inês Teixeira.

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NOVA ESCOLA - ABRIL/2008