sexta-feira, 16 de novembro de 2012

PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA



PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Helena Maria Ferreira

O presente artigo é uma pesquisa científica com bases teóricas acerca das dificuldades de aprendizagem e a intervenção psicopedagógica, buscando caminhos para compreender as formas de aprendizagem e meios para sanar essas dificuldades, tornando o educando uma pessoa mais feliz.
A partir dos anos de 1980, a Psicopedagogia veio resgatar uma visão mais abrangente e globalizante do processo de aprendizagem humana e os problemas decorrentes desse processo.
Não é fácil encontrarmos uma definição completamente clara e abrangente para explicar o que é “problema de aprendizagem”.
Segundo Sara Pain (1992, p.11), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação.
E à educação atribuímos quatro funções interdependentes: função mantenedora, função socializadora, função repressora e função transformadora. Sendo assim, o sujeito que não aprende, não realiza essas funções da educação. A psicopedagogia é a técnica de condução do processo de aprendizagem, levando a cumprir os fins educativos.
As perturbações da aprendizagem são aquelas que interferem nesse processo de aprendizagem impedindo ao sujeito usufruir de suas possiblidades cognitivas.
Nas dimensões do processo de aprendizagem observamos que o conhecimento é adquirido na formação hereditária, de acordo com o meio onde se vive e por meio de experiências vividas. E nessas três dimensões se completa a aprendizagem humana.
De acordo com alguns estudiosos, a aprendizagem humana é um processo integrado que provoca a transformação qualitativa na estrutura mental do sujeito que aprende. O ser humano já nasce com potenciais de aprendizagem e necessitam de estímulos internos e externos para o aprendizado.
O sujeito e o objeto não são dados como instâncias originariamente separadas. Pelo contrário, eles se discriminam justamente em virtude da aprendizagem e do exercício. À medida que exerce sua atividade sobre o mundo, o bebê pode construir apesar das transformações, objetos permanentes, entidades diferentes dele e idênticas  a si mesmas; por outro lado, tal atividade o define como agente e o determina, em primeiro lugar, pelo seu poder, como capacidade de ação. Portanto, podemos falar de condições externas e internas da aprendizagem apenas no sentido descritivo, já que nem sua genética na ação nem seu funcionamento dialético permitem a adoção do esquema estímulo-resposta que tal dicotomia sugere. (Pain, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Ed. Artes Médicas; Porto Alegre. 1992, p.21).

O problema de aprendizagem é considerado um sintoma, sendo que, não é um quadro permanente, podendo ser passível de transformação.
Podemos definir alguns fatores que interferem na aprendizagem que devem ser considerados no diagnóstico. São eles:
·        Fatores orgânicos;
·        Fatores específicos;
·        Fatores psicógenos;
·        Fatores ambientais.

a)      Os fatores orgânicos (fatores fisiológicos) - Estes sistemas são ligados ao sistema nervoso central. Quando sadio, possui ritmo, plasticidade e equilíbrio, garantindo harmonia nas mudanças. Porém, quando há lesões ou desordens corticais comprometendo assim, a aprendizagem (apraxias, afasias, certas dislexias).
b)      Fatores específicos – Estão intimamente ligados na área perceptivo-motora, e na lateralidade do sujeito. Esses transtornos aparecem no nível da aprendizagem da leitura e da escrita. Nestes casos o tratamento psicopedagógico alcança êxito, desde que seja diagnosticado corretamente esse transtorno de aprendizagem que se denomina como dislexia (dificuldade para aprender ler e/ou escrever).
c)      Fatores psicógenos  - Ligados à estruturação da formação da personalidade (Id, ego e superego). O fator psicógeno do problema de aprendizagem pode ser confundido com sua significação e o não aprender é constituído como inibição ou como sintoma. Um exemplo de problema de aprendizagem ligado a esse fator é a disortografia.
d)      Fatores ambientais – Estímulos que constituem a aprendizagem e o meio ambiente material do sujeito. O problema de aprendizagem se apresenta de acordo com a ideologia e valores do grupo ao qual está inserido.
À luz de várias contribuições, de diversas áreas do conhecimento como a Psicologia, Linguística, Psicolinguística, Sociologia, antropologia, a Psicopedagogia encontra diferentes abordagens para os problemas de aprendizagem.
Podemos destacar a contribuição de Emília Ferrero, seguidora do pensamento piagetiano, buscando novos caminhos e olhares para o entendimento da leitura e da escrita. Ela ainda contribui com as teorias desafiadoras de transformar o espaço de aprendizagem em um espaço construtivista. Onde, os “erros dos alunos” são transformados em objetos de construção do conhecimento.
Não desconsiderando o valor real dos testes diagnósticos de alguns problemas de aprendizagem, uma vez que Vygotsky através da teoria da zona proximal, onde o ambiente social das crianças é considerado e essa concepção, passa a ser um momento privilegiado no processo de desenvolvimento da criança. E podemos assim, apostar nas capacidades das crianças, considerando mais suas qualidades do que seus defeitos.
Visca (1991) concebe a aprendizagem como um processo com a interferência de aspectos emocionais, cognitivos, biológicos e sócias. Para ele, existem níveis de aprendizagem que iniciam com o nascimento e se estendem até à morte. Esses níveis são denominados: proto-aprendizagem, dêutero-aprendizagem, aprendizagem assistemática e aprendizagem sistemática.
a)      Proto-aprendizagem – Caracteriza-se pelos primeiros contatos com a mãe.
b)      Dêutero-aprendizagem – Caracteriza-se pelas relações da criança com os objetos e ambiente que a rodeiam.
c)      Aprendizagem assistemática e aprendizagem sistemática – Caracterizam-se pelas interações do indivíduo com a sociedade e com as instituições educativas.
Para Pain (1985), a aprendizagem depende da articulação de fatores internos e externos ao sujeito. De acordo com a autora a aprendizagem apresenta três funções: socializadora, repressiva e transformadora.
a)      Função socializadora – Submete-se às normas e regras identificando-se com o grupo social ao qual pertence.
b)      Função repressiva – Garantindo-se em sobrevivência ao sistema que rege a sociedade.
c)      Função transformadora – Permite ao sujeito uma participação na sociedade, na perspectiva de transformá-la.
Visca e Pain oferecem valiosas contribuições à Psicopedagogia por apresentarem uma concepção mais completa e abrangente do ser humano, evidenciando a necessidade multidisciplinar na ação psicopedagógica.
O processo de aprendizagem na abordagem de Piaget, com a teoria da equilibração, trata de maneira trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Considerado como um mecanismo regulador que assegura a interação eficiente do sujeito com o meio ambiente.
Piaget (1975) define que, o equilíbrio cognitivo implica afirmar a presença necessária de acomodações nas estruturas do cérebro. No processo de desenvolvimento, tal como é visto por Piaget, cada criança se desenvolve através de estágios. O autor distingue três estágios fundamentais:

a) Sensório motor – que vai do nascimento até os 2 anos de idade. Sendo que neste estágio a criança evolui no entendimento do mundo exterior em relação a si própria.

b) Operações concretas – estende-se dos 2 aos 11 anos de idade e subdivide-se em pensamento pré-operacional (de 2 a 7 anos) e pensamento operacional concreto. Concretiza-se na preparação e na realização das operações concretas em classes, relações e números.
c) Operações formais – de 11/12 até 14/15 anos. Período no qual o adolescente ajusta-se à realidade completa de sua atualidade, tornando-se capaz de lidar com o mundo das possibilidades.
Os períodos ou estágios da teoria de Piaget não constituem divisões arbitrárias do processo evolutivo. Cada um deles possui características mínimas que o define.
A teoria de aprendizagem de Jean Piaget alertou os educadores para o respeito ao estágio de desenvolvimento do pensamento infantil, adequando as atividades escolares às características evolutivas das crianças.
Os interacionistas Jean Piaget e Lev Vygotsky se tornaram expoentes referenciais na Pedagogia contemporânea.
Piaget acredita que a aprendizagem se dá através do desenvolvimento, minimizando o papel de interação social e Vygotsky privilegia o ambiente social como fator de desempenho da aprendizagem, apesar de acreditar que a construção do conhecimento e o desenvolvimento também têm participação no processo de aprendizagem.

          Para Vygotsky, a cultura molda o psicológico, determinando a maneira de pensar do sujeito. Pessoas de diferentes culturas têm diferentes perfis psicológicos. As funções psicológicas de uma pessoa são desenvolvidas ao longo do tempo e mediadas pelo social, através de símbolos criados pela cultura. A linguagem representa a cultura e depende do intercâmbio social. Os conceitos são construídos no processo histórico e o cérebro humano é resultado da evolução. As aprendizagens são construídas e internalizadas de maneira não linear e diferente para cada pessoa, onde o cotidiano está sempre em movimento e em transformação.
De acordo com Ferreiro, imaturidade, prontidão, habilidades motoras e perceptuais deixam de ter sentido isoladamente. Os aspectos motores, cognitivos e afetivos são importantes, à medida que são tratados no contexto da realidade sócio cultural das crianças. “Hoje a perspectiva construtivista considera a interação de todos eles, numa visão política, integral, para explicar a aprendizagem” diz Ferreiro.
As dificuldades de aprendizagem mais comuns são: a dislexia a disgrafia, a discalculia, a dislalia, a disortografia e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

a)      Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura. A criança faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, apresentando dificuldades para ler um texto fluentemente. Estudiosos afirmam a dislexia é causada por fatores genéticos, mas, ainda não foi comprovado pela medicina.
b)       Disgrafia: geralmente vem associada à dislexia, porque a criança faz trocas e inversões de letras e consequentemente encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal traçadas e ilegíveis e apresenta desorganização ao produzir um texto.
c)       Discalculia: é a dificuldade para cálculos e números. Geralmente os portadores dessa dificuldade não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los. Não compreendem os enunciados de problemas, não conseguem quantificar, comparar e consegue fazer sequências lógicas. Esse problema é um dos mais complexos e mais difíceis de diagnosticar.
d)       Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresentando pronúncia errada das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas. É uma dificuldade mais manifestada em pessoas com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino.
e)      Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e também pode manifestar-se como consequência da dislexia. As principais características da disortografia são: troca de grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação.
f)        TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, manifestando sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. É comum vermos crianças e adolescentes sendo rotulados como hiperativos. Por isso, é importante que esse diagnóstico seja feito por um médico neurologista e outros profissionais.
E ao decorrer das pesquisas, em uma abordagem geral, podemos traçar o somatório de todos os fatores que influenciam a aprendizagem, abrindo um leque de possibilidades de estudo para se diagnosticar os problemas de aprendizagem.
            E dentro da visão acadêmica atual, podemos classificar essas dificuldades de aprendizagem nos fatores: biológicos, sociais, psicológicos e fatores pedagógicos. E que cada um desses fatores é objeto de estudo de cada uma dessas áreas. Dá-se então, a importância de cada especialista para o atendimento da criança com dificuldades de aprendizagem.
Cada pessoa é única. Cada vida tem sua própria história. É preciso conhecer a criança e como ela aprende. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das queixas da escola, trabalhando com os erros e acertos, resgatando o desejo de aprender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.      FERREIRO, Emilia & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Artes Médicas, Porto Alegre, 1986.
2.      FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo. Ed. Cortez. São Paulo. SP.
3.      FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre.
4.      SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar – o problema escolar e de aprendizagem. Ed. Vozes. Petrópolis, 1994.
5.      PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1994.

PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS



PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS

Helena Maria Ferreira

RESUMO
Este artigo é resultado de estudos e pesquisas acerca da psicomotricidade, desenvolvimento psicomotor, origens da educação psicomotora, conceitos de esquema corporal, orientação corporal, fazendo uma relação entre Psicomotricidade, Educação Física Psicomotora e como se trabalhar esses conceitos na escola.
Palavras-chave: Esquema corporal, Psicomotricidade, Orientação espacial.

INTRODUÇÃO
A psicomotricidade reflete um estado da vontade, que corresponde à execução dos movimentos. E esses movimentos podem ser voluntários ou involuntários.
Sendo assim, a Psicomotricidade tem como base expressiva a formação e estruturação do esquema corporal.
A Educação Física tem o objetivo estimular o desenvolvimento psicomotor e contribui na formação integral do educando e suas potencialidades.
Os reflexos condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos geralmente começam como atividades voluntárias e depois, por já estarem aprendidos, mecanizados.
Assim sendo, corpo é o meio de ligação do individuo consigo mesmo, sua individualidade e  com o mundo.


BREVE HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE
Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica. Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico (SBP, 2003).
A Psicomotricidade se conceitua como Ciência da Saúde e da Educação, pois indiferente das diversas escalas, psicológicas, condutistas, evolutistas, genéticas. Ela visa a representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo (AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007).
Os primeiros movimentos de trabalhos da psicomotricidade foram impulsionados dentro de uma proposta reeducativa. A reeducação é uma forma de estimular na criança suas funções psicomotoras, que foram contrariadas em seu desenvolvimento. Piaget em seus estudos já se preocupava em estimular as crianças de forma adequada, respeitando cada fase do seu desenvolvimento. Assim ele redimensionou as questões da Psicomotricidade e não a limita apenas a uma ação reeducativa, mas a uma primeira instância educativa.

 A PSICOMOTRICIDADE E A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
Um desenvolvimento adequado do esquema corporal corresponde a uma maturação da motricidade, das percepções espaciais e temporais e da afetividade, que vão favorecer um bom desenvolvimento cognitivo de uma forma global e especificamente na aprendizagem oral e escrita.
Na Evolução da Psicomotricidade, Wallon propõe uma série de estágios do desenvolvimento cognitivo. Porém ele não acredita que os estágios de desenvolvimento formem uma sequência linear e fixa, ou que um estágio suprima o outro. Para Wallon, o estágio posterior amplia e reforma os anteriores. O desenvolvimento não seria um fenômeno suave e contínuo; pelo contrário, o desenvolvimento seria permeado de conflitos internos e externos. É natural que, no desenvolvimento, ocorram rupturas, retrocessos e reviravoltas. Os conflitos, mesmo os que resultem em retorno a estágios anteriores, são fenômenos geradores de evolução. A mudança de cada estágio se caracteriza um tipo diferenciado de comportamento, uma atividade predominante que será substituída no estágio seguinte, além de conferir ao ser humano novas formas de pensamento, de interação social e de emoções que irão direcionar-se, ora para a construção do próprio sujeito, ora para a construção da realidade exterior.
A questão da motricidade é muito forte na teoria walloniana, compreendida como um instrumento privilegiado de comunicação da vida psíquica. A criança, que ainda não possui a linguagem verbal, exprime por meio da motricidade suas mais diversas necessidades, traduzidas, portanto, de uma forma não verbal e com aspectos afetivos de expressão de bem ou mal estar.
Nesse sentido Fonseca (2008, p.15) esclarece:
A motricidade contém, portanto, uma dimensão psíquica, e é um deslocamento no
espaço de uma totalidade motora, afetiva e cognitiva, que se apresenta em termos
evolutivos segundo Wallon sob três formas essenciais: deslocamentos passivos ou
exógenos, deslocamentos ativos ou autógenos e deslocamentos práxicos.

"A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na pré-escola. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilidades de coordenação de seus gestos e movimentos." (Oliveira, 1997)  


ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR:
O primeiro dos estágios é o impulsivo-emocional que abrange o primeiro ano de vida, quando o bebê não sabe diferenciar o que é ele e o que é o mundo.
No segundo estágio, o sensório-motor e projetivo que vai até os três anos de idade, onde o interesse é voltado para a exploração sensorial e motora do mundo físico, o que está pensando projeta em atos motores, vai fazendo e pensando ao mesmo tempo, ocorrendo o desenvolvimento da função simbólica.
O terceiro estágio, o do personalismo, abrange dos três aos seis anos de idade, cuja tarefa principal é a formação da personalidade, constroem a consciência de si, por meio das interações sociais. A criança tenta se compreender e compreender o mundo.
O quarto estágio é o categorial, por volta dos seis anos de idade, o cognitivo auxilia na entrada do mundo da alfabetização, avanços no cognitivo que dirigem o interesse das crianças pelas coisas, para o conhecimento.
O último estágio é o da adolescência, que traz à tona questões pessoais, morais e existenciais, pergunta quem sou eu enquanto pessoa no mundo. Iniciada pela puberdade, com as mudanças hormonais.

CONCEITOS DE PSICOMOTRICIDADE
A Psicomotricidade é um dos elementos sociais na educação pedagógica, pois é, tanto ação como expressão, servindo de elo entre o sujeito e o meio ambiente. A evolução psicomotora está internamente ligada ao descobrimento das coisas, do espaço, do tempo, do mundo externo.
Wallon relaciona tônus muscular com os estados afetivos e emocionais do sujeito. A relação tônico-emocional atua, no desenvolvimento da criança e ainda fala em esquema corporal como o conhecimento do próprio corpo, o saber dominá-lo, conceitos ligados à função, localização e utilização.
Quanto à concepção de corpo, indica que ele não seria apenas um instrumento utilizado para a construção e para a ação, além disso, é a forma como se comunica com o meio, com o social. Ao contrário do pensamento da dualidade entre o corpo e a alma, Ajuriaguerra afirma que a criança é seu corpo, como já dito, ela se desenvolve tendo a consciência sobre ele. É por meio de seu corpo que a criança expressa seus sentimentos, suas necessidades e suas emoções.
 Para Ajuriaguerra (apud FONSECA, 2008, p.104):
[...] a evolução da criança é sinônimo de consciencialização e de conhecimento cada vez mais profundos do seu corpo, ou seja, do seu eu total. É com o corpo, diz-nos este autor, que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza a sua personalidade única, total e evolutiva [...].
Piaget é reconhecido pelo seu trabalho de organizar o desenvolvimento cognitivo em estágios; seu estudo fora feito por meio da observação de crianças.
Sua teoria era de que o conhecimento é construído por cada sujeito na interação com seu ambiente. Dessa forma, procurou identificar como o homem constrói seu conhecimento, como ele o procura, organiza e assimila a seu estado anterior de conhecimento, ou seja, a gênese do conhecimento, defendendo então que as pessoas passariam por estágios de desenvolvimento. Isso aconteceria por meio da equilibração que se configura entre a assimilação e a acomodação, resultando em uma adaptação ao mundo exterior.
Segundo Piaget, a inteligência seria o resultado dessa adaptação, nesse sentido seria por meio da experiência como ação que as pessoas passariam a transformar o mundo e a incorporá-lo, portanto pode-se afirmar que por meio da motricidade o indivíduo integra-se ao mundo exterior e o modifica, assim como a si próprio (FONSECA, 2008).
A motricidade na obra de Piaget tem papel de extrema importância na construção da imagem mental, ou seja, na questão da representação. Para a formação dessa representação é preciso que tenha acontecido a experiência vivida com o objeto, a ação direta com ele, ou seja, o movimento que se pratica transformando esse objeto por meio de processos sensório-motores.
No início, a Psicomotricidade tinha seus estudos voltados para a patologia. Wallon, Piaget e Ajuriaguerra tiveram a preocupação de aprofundar esses estudos mais voltados para o campo do desenvolvimento. Wallon se preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção, Piaget se preocupou com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência e Ajuriaguerra, que vem consolidar as bases da evolução psicomotora, voltou sua atenção mais específica para o corpo em sua relação com o meio. Para ele, a evolução da criança está na conscientização do seu corpo. A teoria de Wallon possibilitou o início do pensamento psicomotor e a valorização do indivíduo de maneira integral, dando sugestões para muitos outros estudiosos que se apropriaram de seus conhecimentos e contribuíram para o desenvolvimento desse pensamento.
Efetivamente, ao dar-se uma estrutura cognitiva à ação e a motricidade, a inteligência tem de coordenar a ação, de forma a acomodar-se ao objeto ou ao real. A criança, acomodando-se ao real e aos objetos, conhece-os, simboliza-os e pode representá-los. Mais uma vez, a motricidade é a estrutura de troca e de relação que permitirá à criança assimilar e acomodar-se ao real e aos objetos. O pensamento da criança é inteligente quando se apoia no real ou nos objetos, pois só pela ação e pela motricidade poderá assimilá-los e acomodá-los (FONSECA, 2008, p.84).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Depois de muita leitura e pesquisas com embasamento teórico, conclui que a Psicomotricidade favorece à criança uma relação consigo mesma e com o mundo que a cerca.
A Psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolvem a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. Por isso dizemos que a mesma é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. A estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de sua aprendizagem. O desenvolvimento evolui do geral para o específico; quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, em grande parte essas dificuldades estão no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. Daí a importância para a valorização do trabalho da psicomotricidade na escola
Também pude concluir que através das atividades que envolvem a psicomotricidade na Educação Física escolar, contribui melhor para o melhor conhecimento da criança, além de desenvolver cooperação, interação, socialização, significa recrear-se, porque é a forma mais completa que o indivíduo tem de comunicar-se consigo mesmo e com o mundo.
REFERÊNCIAS
AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. São Paulo: Manson, 1983.FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SBP. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Disponível em: www.psicomotricidade.com.br. Acesso em: fevereiro 2003.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. São Paulo: Edições 70, 1968.

A DISLEXIA PELO OLHAR DO PSICOPEDAGOGO



A DISLEXIA PELO OLHAR DO PSICOPEDAGOGO

Helena Maria Ferreira

RESUMO

A Dislexia refere-se a uma dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem. Normalmente, quando se ouve a palavra dislexia pensa-se apenas em problemas que crianças apresentam na escola com leitura, escrita, ortografia e matemática. Alguns associam a dislexia apenas à troca de letras ou palavras, outros à lentidão de aprendizagem. Quase todos a consideram uma forma de transtorno da aprendizagem. Na verdade, isso é apenas um aspecto da dislexia. Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender, reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até genial, mas que aprende de maneira diferente.

ABSTRACT

Dyslexia, refers to a learning related to the language. Usually, when you hear the word dyslexia is thought that only
children have problems in school with reading, writing, spelling and mathematics. Some associate dyslexia only the exchange of letters or words, others to slow learning. Almost all consider it a form of learning disorder. Actually, this is just one aspect of dyslexia. Dyslexia, before any definition, is a way of being and learning, reflects the individual expression of a mind, often clever and even brilliant, but who learns differently.


PALAVRAS CHAVE
Dislexia – Dificuldades em Aprendizagem - Psicopedagogo - Intervenção

INTRODUÇÃO
O psicopedagogo é um dos profissionais que faz parte do grupo multidisciplinar de avaliação da dislexia, logo, é relevante focar o estudo na concepção psicopedagógica, pela sua importância na instituição escolar, bem como na avalião diagnóstica e no tratamento de alunos disléxicos.

A Psicopedagogia trabalha e estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, contribuindo na recuperação das habilidades cognitivas, emocionais, sociais, visando o sucesso nos diversos contextos em que atua.

O desenvolvimento de uma pesquisa sobre a dislexia, bem como o interesse, em aprofundar estudos na área da psicopedagogia, motivaram a realização deste estudo.

A dislexia é um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia compromete a capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência e de compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é, associar os fonemas às letras.
A causa do distúrbio é uma alteração cromossômica hereditária, o que explica a ocorrência em pessoas da mesma família. Pesquisas recentes mostram que a dislexia pode estar relacionada com a produção excessiva de testosterona pela mãe durante a gestação da criança.
De acordo com Vygotsky (1992), todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como o sujeito vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras.
Sinais Comuns de Dislexia
Na educação infantil:
Falar tardiamente, dificuldade para pronunciar alguns fonemas, demorar a incorporar palavras novas ao seu vocabulário, dificuldade para rimas, dificuldade para aprender cores, formas, números e escrita do nome, dificuldade para seguir ordens e seguir rotinas, dificuldade na habilidade motora fina, dificuldade de contar ou recontar uma história na sequência certa e dificuldade para lembrar nomes e símbolo.

Na alfabetização:
Dificuldade em aprender o alfabeto, dificuldade no planejamento motor de letras e números, dificuldade para separar e sequenciar sons (ex: p – a – t – o), dificuldade com rimas (habilidades auditivas), dificuldade em discriminar fonemas homorgânicos (p-b, t-d, f-v, k-g, x-j, s-z), dificuldade em sequência e memória de palavras, dificuldade para aprender a ler, escrever e soletrar, dificuldade em orientação temporal (ontem – hoje – amanhã, dias da semana, meses do ano), dificuldade em orientação espacial (direita – esquerda, embaixo, em cima), dificuldade na execução da letra cursiva, dificuldade na preensão do lápis, dificuldade de copiar do quadro.

Sintomas
Os sintomas variam de acordo com os diferentes graus de gravidade do distúrbio e tornam-se mais evidentes durante a fase da alfabetização.
Muitas vezes a dislexia é confundida com déficit de atenção, problemas psicológicos, ou mesmo preguiça. Esse transtorno se caracteriza pela dificuldade do indivíduo em decodificar símbolos, ler, escrever, soletrar, compreender um texto, reconhecer fonemas, exercer tarefas relacionadas à coordenação motora; e pelo hábito de trocar, inverter, omitir ou acrescentar letras/palavras ao escrever.
Essa dificuldade para realizar esse processo acomete especialmente crianças com dislexia de desenvolvimento que não conseguem elaborar o mapa entre os sons de determinadas palavras e as letras que as constituem quando escritas. Esse tipo de dislexia é detectado logo no início do processo de escolarização e pode acompanhar a criança por muito tempo.
Se a dislexia for discursiva, conseguem realizar esse processo, porém, se for fonológica, não conseguem.
Crianças com dificuldade de imaginar a estrutura da palavra correspondente ao som vão cometer erros, porque não têm esse mapeamento bem estabelecido.
 Como se trata de duas situações diferentes, obviamente elas merecem atenção individual e personalizada. 
Para Ferreiro e Teberosky (1999), o grande problema da aprendizagem da leitura e da escrita está baseado nos métodos de ensino, pois a preocupação dos educadores está direcionada para o método mais eficaz, considerando essa eficácia a partir da maior quantidade de alunos alfabetizados com mais rapidez, não se preocupando com a qualidade dessa aprendizagem. Nessa perspectiva, a polêmica está centrada com maior ênfase em dois tipos de métodos: os que partem de elementos menores que a palavra, denominados métodos sintéticos e, os que partem da palavra ou de unidades maiores, denominados métodos analíticos. A diferença entre os métodos resume-se nas estratégias perceptivas do que se propõe, auditiva ou visual, além das concepções do funcionamento psicológico dos sujeitos e teorias de aprendizagem diferentes. No entanto, nenhum dos métodos preocupa-se com os aspectos fundamentais da aprendizagem: a competência linguística da criança e suas capacidades cognoscentes que são as capacidades de buscar o conhecimento.
A dislexia não tem ligação com nenhum tipo de retardo ou deficiência intelectual, e não indica futuras dificuldades acadêmicas e profissionais.
Mas, em se tratando de dificuldade de aprendizagem, a criança pode apresentar um mau comportamento dentro e fora da sala de aula, quando não se sentir estimulada e participativa no ambiente escolar ou social.

Diagnóstico
O diagnóstico consiste na análise do paciente, geralmente por equipe multidisciplinar (psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo, neurologista, entre outros), excluindo outras possíveis causas. Tal avaliação permite que o acompanhamento seja feito de forma mais eficaz, já que isso leva em consideração suas particularidades individuais.
Antes de afirmar que uma pessoa é disléxica, é preciso descartar a ocorrência de deficiências visuais e auditivas, déficit de atenção, escolarização inadequada, problemas emocionais, psicológicos e socioeconômicos que possam interferir na aprendizagem.
É de extrema importância estabelecer o diagnóstico precoce para evitar que sejam atribuídos aos portadores do transtorno rótulos depreciativos, com reflexos negativos sobre sua autoestima e projeto de vida.
Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico de dislexia, maiores serão as chances de tratamento especializado ou adequado, minimizando, assim, as consequências das dificuldades escolares e/ou sociais. Entretanto, a intervenção pode ser iniciada em qualquer idade, o que certamente tem muito a contribuir para o sucesso do indivíduo disléxico.

Tratamento
Dislexia requer tratamento multidisciplinar. O diagnóstico precoce pode evitar muitos dissabores e o comprometimento da autoestima e da socialização dessas crianças.
Ainda não se conhecendo a cura para a dislexia, o paciente deve ser auxiliado em suas limitações, permitindo uma melhora progressiva e evitando, assim, que sofra problemas sérios relacionados à autoestima e socialização.
 O tratamento exige a participação de especialistas em várias áreas para ajudar o portador de dislexia a superar, na medida do possível, o comprometimento no mecanismo da leitura, da expressão escrita ou da matemática.
Indivíduos disléxicos possuem a área lateral-direita do cérebro mais desenvolvida que a de pessoas que não possuem essa síndrome, tendo geralmente, por tal motivo, mais facilidade em questões relacionadas à criatividade, solução de problemas, mecânica e esportes.

Intervenções
A escola tem papel fundamental no trabalho com os alunos que apresentam dificuldades de linguagem.
Destacamos algumas sugestões que consideramos importantes para que ele se sinta seguro, querido e aceito pelo professor e pelos colegas: incentivar sempre, valorizar o que a criança mais gosta de fazer, atribuir tarefas, ressaltar os acertos, mostrar que ela é capaz, respeitar o seu ritmo. Lembrando que, nós não aprendemos pelo fracasso, mas sim pelos sucessos.
O monitoramento das atividades é de essencial importância através de explicações, estimulação verbal, instruções curtas e simples, utilizar a rotina diária de trabalhos (esquematizando essa rotina), para facilitar o acompanhamento das lições, procurar estratégias de leitura que facilitem a participação do disléxico. Pois, alunos disléxicos podem ser bem sucedidos em uma classe regular. O sucesso dependerá do cuidado em relação à sua leitura e das estratégias usadas.
As crianças com dificuldade de linguagem têm problemas com testes e provas e em geral, não conseguem ler todas as palavras das questões do teste e não estão certas sobre o que está sendo solicitado. Necessita mais tempo para realizar o teste e das intervenções do professor durante o mesmo, fazendo questionamentos através de perguntas que levem o aluno a pensar e ordenar as ideias, valorizando ao máximo a produção do aluno.
A leitura é uma destreza. A escrita é uma destreza. Um dos requisitos prévios para o desenvolvimento de uma destreza é o raciocínio inteligente quanto aos problemas e as tarefas que implicam e ao porq deles. Para raciocinar de modo efetivo sobre  as  tarefas  de  leitura  e  escrita,  as  crianças  precisam  formar conceitos sobre as funções comunicativas e os traços linguísticos da fala e da escrita. A escola influi favorável ou não no desenvolvimento desse aprendizado. Os métodos de ensino que por ventura  obscureçam  ou  que  ocultem  estes conceitos inibirão sua formação. Se as escolas empregam métodos e materiais que se ajustam ao desenvolvimento  conceptual  da  criança,  as  destrezas  da leitura/escrita podem desenvolver-se maneira fluida e natural. (EMÍLIA FERRERO, 1987, p.192)
O disléxico tem uma história de fracassos e cobranças que o fazem sentir-se incapaz. Motivá-lo exigirá de nós, mais esforço e disponibilidade do que dispensamos aos demais, portanto, não podemos ter receio em que nosso apoio ou atenção vá acomodar o aluno ou fazê-lo sentir-se menos responsável.
Se o disléxico não pode aprender do jeito que ensinamos, temos que ensinar do jeito que ele aprende, criando alternativas e oportunidades de aprendizagem.
Para Queirós e Sahrager (1980), “A aprendizagem é a aquisição de condutas do desenvolvimento que dependem de influências ambientais. O termo desenvolvimento neste contexto é amplo e inclui evolução, maturação e aprendizagem”.
Portanto, a escola precisa trabalhar juntamente com a família, que tem um papel de grande importância para o pleno desenvolvimento da criança disléxica. Ambos devem conhecer as características do disléxico, respeitando os seus limites e valorizando muito seu potencial.
Faz-se necessário compreender não apenas o porquê da não aprendizagem, mas o que aprender e como se desenvolve este processo. Deve-se também valorizar o conhecimento do aprendente, valorizando a sua autoestima, trabalhando com procedimentos específicos e individualizados em cada atendimento. O trabalho do psicopedagogo deve estar em sintonia com o trabalho realizado pelo professor na sala de aula juntamente com a família.
CONCLUSÃO
A dislexia, segundo Jean Dubois et al. (1993, p. 197),”é um defeito de aprendizagem da leitura, caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos e fonemas mal identificados!. A transformação dos signos escritos em signos verbais.
Assim, para a linguística, a dislexia não é uma doença, mas um fracasso inesperado (defeito) na aprendizagem da leitura, sendo, pois uma síndrome de base pedagógica e linguística.
A dislexia que persiste pode ser descrita, explicada e sofrer a intervenção psicopedagógica. A intervenção do psicopedagogo ou fonoaudiólogo vai variar conforme o tipo de dislexia: fonológica, lexical ou mista.
Vygotsky (1987) faz uma diferenciação entre processos psicológicos, superiores rudimentares e processos psicológicos avançados. Nos primeiros, ele colocaria a linguagem oral, como processo psicológico superior adquirido na vida social mais extensa e por toda a espécie, e sendo produzido pela internalização de atividades sociais, através da fala. A interação e a linguagem têm um importante destaque no pensamento de Vygotsky, uma vez que irão contribuir no desenvolvimento dos processos psicológicos, através da ação. Vygotsky substituiu os instrumentos de trabalho por instrumentos psicológicos, explicando desta forma, a evolução dos processos naturais até alcançar os processos mentais superiores, por isso, a linguagem, instrumento de imenso poder, assegura que significados linguisticamente criados sejam significados sociais e compartilhados.
A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com clientes disléxicos, faz com que muitos alunos propensos ao fracasso escolar sejam resgatados, através de um plano de trabalho individualizado e comprometido com o sucesso em todos os âmbitos: escolar, emocional e social.

Segundo FREITAS (2006, p.1) a atuação do psicopedagogo é uma busca constante ladeada por diversos teóricos, visando maior capacitação e compreensão do cliente/paciente disléxico. Essa busca de técnicas e estratégias de trabalho visa o que mais fará sentido ao disléxico; “objetiva em suas sessões conhecer, entender e esclarecer o mecanismo manifesto junto dele, seja através de jogos, de vivências e de discussões de temas pertinentes, buscando e permitindo o conhecimento”. A abordagem de trabalho associa o estímulo e o desenvolvimento através de métodos multissensoriais, que partem da linguagem oral à estruturação do pensamento, da leitura espontânea à discussão temática, da elaboração crítica e gerativa das ideias à expressão escrita, incorporando o processo da aprendizagem.
Entender como aprendemos e o porquê de muitas pessoas inteligentes e, até, geniais experimentarem dificuldades paralelas em seu caminho diferencial do aprendizado, é um desafio para a Ciência.
Assim, o olhar e escuta psicopedagógicos, entendem a dislexia: sob um viés integrativo, onde importam os aspectos orgânicos e psicodinâmicos do indivíduo, bem como a instituição família e sistema educacional, na figura da escola. A atuação psicopedagógica visa auxiliar a que o sujeito se beneficie com um processo de aprendizagem que lhe seja significativo e prazeroso, num nível compatível às suas reais potencialidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DISLEXIA - http://www.andislexia.org.br/
DUBOIS, Jean et alii. (1993). Dicionário de linguística. SP: Cultrix.
FERREIRO, Emilia; PALACIO, Margarita Gomes. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
FREITAS, Tânia Maria de Campos. Tratamento psicopedagógico do jovem disléxico. Acesso em: 09/07/2012. Disponível em: t
p://www.dislexia.org.br>.
LEITE PINTO, Maria Alice (org.) – PEDAGOGIA, Diversas faces, múltiplos olhares. São Paulo: Olho d’Água, 2003.
VARELLA, Drauzio - drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/dislexia/
 VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1984.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.