A DISLEXIA PELO OLHAR DO
PSICOPEDAGOGO
Helena Maria Ferreira
RESUMO
A
Dislexia refere-se a uma dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem.
Normalmente, quando se ouve a palavra dislexia pensa-se apenas em problemas que
crianças apresentam na escola com leitura, escrita, ortografia e matemática.
Alguns associam a dislexia apenas à troca de letras ou palavras, outros à
lentidão de aprendizagem. Quase todos a consideram uma forma de transtorno da
aprendizagem. Na verdade, isso é apenas um aspecto da dislexia. Dislexia, antes de qualquer definição, é um
jeito de ser e de aprender, reflete a expressão individual de uma mente, muitas
vezes arguta e até genial, mas que aprende de maneira diferente.
ABSTRACT
Dyslexia, refers to a learning related to the language. Usually, when you hear the word dyslexia is thought that only children have problems in school with reading, writing, spelling and mathematics. Some associate dyslexia only the exchange of letters or words, others to slow learning. Almost all consider it a form of learning disorder. Actually, this is just one aspect of dyslexia. Dyslexia, before any definition, is a way of being and learning, reflects the individual expression of a mind, often clever and even brilliant, but who learns differently.
PALAVRAS CHAVE
Dislexia
– Dificuldades em Aprendizagem - Psicopedagogo - Intervenção
INTRODUÇÃO
O psicopedagogo é um dos profissionais que faz parte do grupo multidisciplinar de avaliação da
dislexia, logo, é relevante focar o estudo na concepção psicopedagógica, pela sua importância na instituição escolar, bem como na avaliação diagnóstica e no tratamento de alunos disléxicos.
A Psicopedagogia trabalha e estuda o processo
de aprendizagem e suas dificuldades, contribuindo na recuperação das habilidades cognitivas, emocionais, sociais, visando o sucesso nos diversos contextos em que
atua.
O desenvolvimento de uma pesquisa sobre a dislexia, bem como o interesse, em
aprofundar estudos na área da psicopedagogia, motivaram a realização deste estudo.
A
dislexia é um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem
neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo
escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia compromete a capacidade de aprender a
ler e escrever com correção e fluência e de compreender um texto. Em diferentes
graus, os portadores desse defeito congênito não conseguem estabelecer a
memória fonêmica, isto é, associar os fonemas às letras.
A
causa do distúrbio é uma alteração cromossômica hereditária, o que explica a
ocorrência em pessoas da mesma família. Pesquisas recentes mostram que a
dislexia pode estar relacionada com a produção excessiva de testosterona pela
mãe durante a gestação da criança.
De
acordo com Vygotsky (1992), todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo
ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto
do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade. Neste processo de
desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de
como o sujeito vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de
pensamento são transmitidas à criança através de palavras.
Sinais Comuns de Dislexia
Na educação infantil:
Falar tardiamente, dificuldade para pronunciar
alguns fonemas, demorar a incorporar palavras novas ao seu vocabulário,
dificuldade para rimas, dificuldade para aprender cores, formas, números e
escrita do nome, dificuldade para seguir ordens e seguir rotinas, dificuldade
na habilidade motora fina, dificuldade de contar ou recontar uma história na
sequência certa e dificuldade para lembrar nomes e símbolo.
Na
alfabetização:
Dificuldade em aprender o alfabeto, dificuldade no
planejamento motor de letras e números, dificuldade para separar e sequenciar
sons (ex: p – a – t – o), dificuldade com rimas (habilidades auditivas),
dificuldade em discriminar fonemas homorgânicos (p-b, t-d, f-v, k-g, x-j, s-z),
dificuldade em sequência e memória de palavras, dificuldade para aprender a
ler, escrever e soletrar, dificuldade em orientação temporal (ontem – hoje –
amanhã, dias da semana, meses do ano), dificuldade em orientação espacial
(direita – esquerda, embaixo, em cima), dificuldade na execução da letra
cursiva, dificuldade na preensão do lápis, dificuldade de copiar do quadro.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com
os diferentes graus de gravidade do distúrbio e tornam-se mais evidentes
durante a fase da alfabetização.
Muitas vezes a dislexia é
confundida com déficit de atenção, problemas psicológicos, ou mesmo preguiça. Esse
transtorno se caracteriza pela dificuldade do indivíduo em decodificar
símbolos, ler, escrever, soletrar, compreender um texto, reconhecer fonemas,
exercer tarefas relacionadas à coordenação motora; e pelo hábito de trocar,
inverter, omitir ou acrescentar letras/palavras ao escrever.
Essa dificuldade para realizar
esse processo acomete especialmente crianças com dislexia de desenvolvimento
que não conseguem elaborar o mapa entre os sons de determinadas palavras e as
letras que as constituem quando escritas. Esse tipo de dislexia é detectado
logo no início do processo de escolarização e pode acompanhar a criança por
muito tempo.
Se
a dislexia for discursiva, conseguem realizar esse processo, porém, se for
fonológica, não conseguem.
Crianças
com dificuldade de imaginar a estrutura da palavra correspondente ao som vão
cometer erros, porque não têm esse mapeamento bem estabelecido.
Como se trata de duas situações diferentes,
obviamente elas merecem atenção individual e personalizada.
Para Ferreiro e Teberosky (1999), o grande problema da aprendizagem da leitura e da escrita está baseado nos métodos de ensino, pois a preocupação dos educadores está direcionada para o método mais eficaz, considerando essa eficácia a partir da maior quantidade de alunos alfabetizados com mais rapidez, não se preocupando com a qualidade dessa aprendizagem. Nessa perspectiva, a polêmica está centrada com maior ênfase em dois tipos de métodos: os que partem de elementos menores que a palavra, denominados métodos sintéticos e, os que partem da palavra ou de unidades maiores, denominados métodos analíticos. A diferença entre os métodos resume-se nas estratégias perceptivas do que se propõe, auditiva ou visual, além das concepções do funcionamento psicológico dos sujeitos e teorias de aprendizagem diferentes. No entanto, nenhum dos métodos preocupa-se com os aspectos fundamentais da aprendizagem: a competência linguística da criança e suas capacidades cognoscentes que são as capacidades de buscar o conhecimento.
Para Ferreiro e Teberosky (1999), o grande problema da aprendizagem da leitura e da escrita está baseado nos métodos de ensino, pois a preocupação dos educadores está direcionada para o método mais eficaz, considerando essa eficácia a partir da maior quantidade de alunos alfabetizados com mais rapidez, não se preocupando com a qualidade dessa aprendizagem. Nessa perspectiva, a polêmica está centrada com maior ênfase em dois tipos de métodos: os que partem de elementos menores que a palavra, denominados métodos sintéticos e, os que partem da palavra ou de unidades maiores, denominados métodos analíticos. A diferença entre os métodos resume-se nas estratégias perceptivas do que se propõe, auditiva ou visual, além das concepções do funcionamento psicológico dos sujeitos e teorias de aprendizagem diferentes. No entanto, nenhum dos métodos preocupa-se com os aspectos fundamentais da aprendizagem: a competência linguística da criança e suas capacidades cognoscentes que são as capacidades de buscar o conhecimento.
A dislexia não tem ligação com
nenhum tipo de retardo ou deficiência intelectual, e não indica futuras
dificuldades acadêmicas e profissionais.
Mas, em se tratando de dificuldade
de aprendizagem, a criança pode apresentar um mau comportamento dentro e fora
da sala de aula, quando não se sentir estimulada e participativa no ambiente
escolar ou social.
O diagnóstico consiste na
análise do paciente, geralmente por equipe multidisciplinar (psicólogo, fonoaudiólogo,
psicopedagogo, neurologista, entre outros), excluindo outras possíveis causas.
Tal avaliação permite que o acompanhamento seja feito de forma mais eficaz, já
que isso leva em consideração suas particularidades individuais.
Antes de afirmar que uma pessoa
é disléxica, é preciso descartar a ocorrência de deficiências visuais e
auditivas, déficit de atenção, escolarização inadequada, problemas emocionais,
psicológicos e socioeconômicos que possam interferir na aprendizagem.
É de extrema importância
estabelecer o diagnóstico precoce para evitar que sejam atribuídos aos
portadores do transtorno rótulos depreciativos, com reflexos negativos sobre
sua autoestima e projeto de vida.
Quanto mais cedo for realizado o
diagnóstico de dislexia, maiores serão as chances de tratamento especializado
ou adequado, minimizando, assim, as consequências das dificuldades escolares
e/ou sociais. Entretanto, a intervenção pode ser iniciada em qualquer idade, o
que certamente tem muito a contribuir para o sucesso do indivíduo disléxico.
Dislexia requer tratamento
multidisciplinar. O diagnóstico precoce pode evitar muitos dissabores e o comprometimento
da autoestima e da socialização dessas crianças.
Ainda não se conhecendo a cura
para a dislexia, o paciente deve ser auxiliado em suas limitações, permitindo
uma melhora progressiva e evitando, assim, que sofra problemas sérios relacionados
à autoestima e socialização.
O tratamento exige a participação de
especialistas em várias áreas para ajudar o portador de dislexia a superar, na
medida do possível, o comprometimento no mecanismo da leitura, da expressão
escrita ou da matemática.
Indivíduos disléxicos possuem a
área lateral-direita do cérebro mais desenvolvida que a de pessoas que não
possuem essa síndrome, tendo geralmente, por tal motivo, mais facilidade em
questões relacionadas à criatividade, solução de problemas, mecânica e esportes.
Intervenções
A escola tem papel
fundamental no trabalho com os alunos que apresentam dificuldades de linguagem.
Destacamos algumas sugestões que consideramos
importantes para que ele se sinta seguro, querido e aceito pelo professor e
pelos colegas: incentivar sempre, valorizar o que a criança mais gosta de
fazer, atribuir tarefas, ressaltar os acertos, mostrar que ela é capaz,
respeitar o seu ritmo. Lembrando que, nós não aprendemos pelo fracasso, mas sim
pelos sucessos.
O monitoramento das atividades é de essencial
importância através de explicações, estimulação verbal, instruções curtas e
simples, utilizar a rotina diária de trabalhos (esquematizando essa rotina),
para facilitar o acompanhamento das lições, procurar estratégias de leitura que
facilitem a participação do disléxico. Pois, alunos disléxicos podem ser bem
sucedidos em uma classe regular. O sucesso dependerá do cuidado em relação à
sua leitura e das estratégias usadas.
As crianças com dificuldade de
linguagem têm problemas com testes e provas e em geral, não conseguem ler todas as palavras das questões do teste e não estão
certas sobre o que está sendo solicitado. Necessita mais tempo para realizar o
teste e das intervenções do professor durante o mesmo, fazendo questionamentos
através de perguntas que levem o aluno a pensar e ordenar as ideias,
valorizando ao máximo a produção do aluno.
A leitura é uma destreza.
A escrita é uma destreza.
Um dos requisitos prévios
para o desenvolvimento de uma destreza é o raciocínio inteligente quanto aos
problemas e as tarefas que implicam
e ao porquê deles. Para raciocinar de modo efetivo sobre as tarefas
de
leitura
e
escrita, as crianças
precisam
formar conceitos sobre as funções comunicativas e os traços linguísticos da fala e da
escrita. A escola influi favorável
ou não no desenvolvimento desse aprendizado. Os métodos de
ensino que por ventura obscureçam
ou
que
ocultem estes conceitos inibirão sua formação. Se as escolas empregam métodos e materiais que se ajustam ao desenvolvimento conceptual da criança, as destrezas
da leitura/escrita
podem desenvolver-se maneira
fluida
e natural. (EMÍLIA
FERRERO, 1987, p.192)
O disléxico tem uma história de fracassos e
cobranças que o fazem sentir-se incapaz. Motivá-lo exigirá de nós, mais esforço
e disponibilidade do que dispensamos aos demais, portanto, não podemos ter
receio em que nosso apoio ou atenção vá acomodar o aluno ou fazê-lo sentir-se
menos responsável.
Se o disléxico não pode aprender do jeito que
ensinamos, temos que ensinar do jeito que ele aprende, criando alternativas e
oportunidades de aprendizagem.
Para Queirós e Sahrager (1980), “A
aprendizagem é a aquisição de condutas do desenvolvimento que dependem de
influências ambientais. O termo desenvolvimento neste contexto é amplo e inclui
evolução, maturação e aprendizagem”.
Portanto, a escola precisa
trabalhar juntamente com a família, que tem um papel de grande importância para
o pleno desenvolvimento da criança disléxica. Ambos devem conhecer as
características do disléxico, respeitando os seus limites e valorizando muito
seu potencial.
Faz-se necessário compreender não apenas o porquê da não aprendizagem, mas o que aprender
e como se desenvolve este processo. Deve-se também valorizar o conhecimento do aprendente, valorizando a sua autoestima, trabalhando com procedimentos específicos e individualizados em cada atendimento. O trabalho do psicopedagogo deve estar
em sintonia com o trabalho realizado pelo professor na sala de aula juntamente
com a família.
CONCLUSÃO
A dislexia, segundo Jean Dubois
et al. (1993, p. 197),ӎ um defeito de aprendizagem da leitura, caracterizado
por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal
reconhecidos e fonemas mal identificados!. A transformação dos signos escritos
em signos verbais.
Assim, para a linguística, a
dislexia não é uma doença, mas um fracasso inesperado (defeito) na aprendizagem
da leitura, sendo, pois uma síndrome de base pedagógica e linguística.
A
dislexia que persiste pode ser descrita, explicada e sofrer a intervenção
psicopedagógica. A
intervenção do psicopedagogo ou fonoaudiólogo vai variar conforme o tipo de
dislexia: fonológica, lexical ou mista.
Vygotsky (1987) faz uma
diferenciação entre processos psicológicos, superiores rudimentares e processos
psicológicos avançados. Nos primeiros, ele colocaria a linguagem oral, como
processo psicológico superior adquirido na vida social mais extensa e por toda
a espécie, e sendo produzido pela internalização de atividades sociais, através
da fala. A interação e a linguagem têm um importante destaque no pensamento de
Vygotsky, uma vez que irão contribuir no desenvolvimento dos processos
psicológicos, através da ação. Vygotsky substituiu os instrumentos de trabalho
por instrumentos psicológicos, explicando desta forma, a evolução dos processos
naturais até alcançar os processos mentais superiores, por isso, a linguagem,
instrumento de imenso poder, assegura que significados linguisticamente criados
sejam significados sociais e compartilhados.
A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com clientes disléxicos, faz com que
muitos alunos
propensos ao fracasso escolar sejam resgatados, através de
um plano de trabalho
individualizado e comprometido com o
sucesso em todos os âmbitos: escolar, emocional e
social.
Segundo FREITAS (2006, p.1) a
atuação do psicopedagogo é uma busca constante ladeada por diversos teóricos,
visando maior capacitação e compreensão do cliente/paciente disléxico. Essa
busca de técnicas e estratégias de trabalho visa o que mais fará sentido ao
disléxico; “objetiva em suas sessões conhecer, entender e esclarecer o
mecanismo manifesto junto dele, seja através de jogos, de vivências e de
discussões de temas pertinentes, buscando e permitindo o conhecimento”. A
abordagem de trabalho associa o estímulo e o desenvolvimento através de métodos
multissensoriais, que partem da linguagem oral à estruturação do pensamento, da
leitura espontânea à discussão temática, da elaboração crítica e gerativa das
ideias à expressão escrita, incorporando o processo da aprendizagem.
Entender como aprendemos e o
porquê de muitas pessoas inteligentes e, até, geniais experimentarem
dificuldades paralelas em seu caminho diferencial do aprendizado, é um desafio
para a Ciência.
Assim, o olhar e escuta
psicopedagógicos, entendem a dislexia: sob um viés integrativo, onde importam
os aspectos orgânicos e psicodinâmicos do indivíduo, bem como a instituição
família e sistema educacional, na figura da escola. A atuação psicopedagógica
visa auxiliar a que o sujeito se beneficie com um processo de aprendizagem que
lhe seja significativo e prazeroso, num nível compatível às suas reais
potencialidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DISLEXIA - http://www.andislexia.org.br/
DUBOIS, Jean et alii. (1993). Dicionário de linguística. SP:
Cultrix.
FERREIRO, Emilia; PALACIO, Margarita Gomes. Os processos de leitura
e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
FREITAS, Tânia Maria de Campos. Tratamento psicopedagógico do jovem disléxico. Acesso em: 09/07/2012.
Disponível em: t
p://www.dislexia.org.br>.
LEITE PINTO, Maria Alice (org.) – PEDAGOGIA, Diversas faces,
múltiplos olhares. São Paulo: Olho d’Água, 2003.
VARELLA, Drauzio -
drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/dislexia/
VYGOTSKY, L. S.
A Formação Social da Mente. São Paulo:
Editora Martins Fontes, 1984.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes,
1987.
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