sexta-feira, 16 de novembro de 2012

PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS



PSICOMOTRICIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS

Helena Maria Ferreira

RESUMO
Este artigo é resultado de estudos e pesquisas acerca da psicomotricidade, desenvolvimento psicomotor, origens da educação psicomotora, conceitos de esquema corporal, orientação corporal, fazendo uma relação entre Psicomotricidade, Educação Física Psicomotora e como se trabalhar esses conceitos na escola.
Palavras-chave: Esquema corporal, Psicomotricidade, Orientação espacial.

INTRODUÇÃO
A psicomotricidade reflete um estado da vontade, que corresponde à execução dos movimentos. E esses movimentos podem ser voluntários ou involuntários.
Sendo assim, a Psicomotricidade tem como base expressiva a formação e estruturação do esquema corporal.
A Educação Física tem o objetivo estimular o desenvolvimento psicomotor e contribui na formação integral do educando e suas potencialidades.
Os reflexos condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos geralmente começam como atividades voluntárias e depois, por já estarem aprendidos, mecanizados.
Assim sendo, corpo é o meio de ligação do individuo consigo mesmo, sua individualidade e  com o mundo.


BREVE HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE
Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica. Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico (SBP, 2003).
A Psicomotricidade se conceitua como Ciência da Saúde e da Educação, pois indiferente das diversas escalas, psicológicas, condutistas, evolutistas, genéticas. Ela visa a representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo (AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007).
Os primeiros movimentos de trabalhos da psicomotricidade foram impulsionados dentro de uma proposta reeducativa. A reeducação é uma forma de estimular na criança suas funções psicomotoras, que foram contrariadas em seu desenvolvimento. Piaget em seus estudos já se preocupava em estimular as crianças de forma adequada, respeitando cada fase do seu desenvolvimento. Assim ele redimensionou as questões da Psicomotricidade e não a limita apenas a uma ação reeducativa, mas a uma primeira instância educativa.

 A PSICOMOTRICIDADE E A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
Um desenvolvimento adequado do esquema corporal corresponde a uma maturação da motricidade, das percepções espaciais e temporais e da afetividade, que vão favorecer um bom desenvolvimento cognitivo de uma forma global e especificamente na aprendizagem oral e escrita.
Na Evolução da Psicomotricidade, Wallon propõe uma série de estágios do desenvolvimento cognitivo. Porém ele não acredita que os estágios de desenvolvimento formem uma sequência linear e fixa, ou que um estágio suprima o outro. Para Wallon, o estágio posterior amplia e reforma os anteriores. O desenvolvimento não seria um fenômeno suave e contínuo; pelo contrário, o desenvolvimento seria permeado de conflitos internos e externos. É natural que, no desenvolvimento, ocorram rupturas, retrocessos e reviravoltas. Os conflitos, mesmo os que resultem em retorno a estágios anteriores, são fenômenos geradores de evolução. A mudança de cada estágio se caracteriza um tipo diferenciado de comportamento, uma atividade predominante que será substituída no estágio seguinte, além de conferir ao ser humano novas formas de pensamento, de interação social e de emoções que irão direcionar-se, ora para a construção do próprio sujeito, ora para a construção da realidade exterior.
A questão da motricidade é muito forte na teoria walloniana, compreendida como um instrumento privilegiado de comunicação da vida psíquica. A criança, que ainda não possui a linguagem verbal, exprime por meio da motricidade suas mais diversas necessidades, traduzidas, portanto, de uma forma não verbal e com aspectos afetivos de expressão de bem ou mal estar.
Nesse sentido Fonseca (2008, p.15) esclarece:
A motricidade contém, portanto, uma dimensão psíquica, e é um deslocamento no
espaço de uma totalidade motora, afetiva e cognitiva, que se apresenta em termos
evolutivos segundo Wallon sob três formas essenciais: deslocamentos passivos ou
exógenos, deslocamentos ativos ou autógenos e deslocamentos práxicos.

"A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na pré-escola. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilidades de coordenação de seus gestos e movimentos." (Oliveira, 1997)  


ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR:
O primeiro dos estágios é o impulsivo-emocional que abrange o primeiro ano de vida, quando o bebê não sabe diferenciar o que é ele e o que é o mundo.
No segundo estágio, o sensório-motor e projetivo que vai até os três anos de idade, onde o interesse é voltado para a exploração sensorial e motora do mundo físico, o que está pensando projeta em atos motores, vai fazendo e pensando ao mesmo tempo, ocorrendo o desenvolvimento da função simbólica.
O terceiro estágio, o do personalismo, abrange dos três aos seis anos de idade, cuja tarefa principal é a formação da personalidade, constroem a consciência de si, por meio das interações sociais. A criança tenta se compreender e compreender o mundo.
O quarto estágio é o categorial, por volta dos seis anos de idade, o cognitivo auxilia na entrada do mundo da alfabetização, avanços no cognitivo que dirigem o interesse das crianças pelas coisas, para o conhecimento.
O último estágio é o da adolescência, que traz à tona questões pessoais, morais e existenciais, pergunta quem sou eu enquanto pessoa no mundo. Iniciada pela puberdade, com as mudanças hormonais.

CONCEITOS DE PSICOMOTRICIDADE
A Psicomotricidade é um dos elementos sociais na educação pedagógica, pois é, tanto ação como expressão, servindo de elo entre o sujeito e o meio ambiente. A evolução psicomotora está internamente ligada ao descobrimento das coisas, do espaço, do tempo, do mundo externo.
Wallon relaciona tônus muscular com os estados afetivos e emocionais do sujeito. A relação tônico-emocional atua, no desenvolvimento da criança e ainda fala em esquema corporal como o conhecimento do próprio corpo, o saber dominá-lo, conceitos ligados à função, localização e utilização.
Quanto à concepção de corpo, indica que ele não seria apenas um instrumento utilizado para a construção e para a ação, além disso, é a forma como se comunica com o meio, com o social. Ao contrário do pensamento da dualidade entre o corpo e a alma, Ajuriaguerra afirma que a criança é seu corpo, como já dito, ela se desenvolve tendo a consciência sobre ele. É por meio de seu corpo que a criança expressa seus sentimentos, suas necessidades e suas emoções.
 Para Ajuriaguerra (apud FONSECA, 2008, p.104):
[...] a evolução da criança é sinônimo de consciencialização e de conhecimento cada vez mais profundos do seu corpo, ou seja, do seu eu total. É com o corpo, diz-nos este autor, que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza a sua personalidade única, total e evolutiva [...].
Piaget é reconhecido pelo seu trabalho de organizar o desenvolvimento cognitivo em estágios; seu estudo fora feito por meio da observação de crianças.
Sua teoria era de que o conhecimento é construído por cada sujeito na interação com seu ambiente. Dessa forma, procurou identificar como o homem constrói seu conhecimento, como ele o procura, organiza e assimila a seu estado anterior de conhecimento, ou seja, a gênese do conhecimento, defendendo então que as pessoas passariam por estágios de desenvolvimento. Isso aconteceria por meio da equilibração que se configura entre a assimilação e a acomodação, resultando em uma adaptação ao mundo exterior.
Segundo Piaget, a inteligência seria o resultado dessa adaptação, nesse sentido seria por meio da experiência como ação que as pessoas passariam a transformar o mundo e a incorporá-lo, portanto pode-se afirmar que por meio da motricidade o indivíduo integra-se ao mundo exterior e o modifica, assim como a si próprio (FONSECA, 2008).
A motricidade na obra de Piaget tem papel de extrema importância na construção da imagem mental, ou seja, na questão da representação. Para a formação dessa representação é preciso que tenha acontecido a experiência vivida com o objeto, a ação direta com ele, ou seja, o movimento que se pratica transformando esse objeto por meio de processos sensório-motores.
No início, a Psicomotricidade tinha seus estudos voltados para a patologia. Wallon, Piaget e Ajuriaguerra tiveram a preocupação de aprofundar esses estudos mais voltados para o campo do desenvolvimento. Wallon se preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção, Piaget se preocupou com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência e Ajuriaguerra, que vem consolidar as bases da evolução psicomotora, voltou sua atenção mais específica para o corpo em sua relação com o meio. Para ele, a evolução da criança está na conscientização do seu corpo. A teoria de Wallon possibilitou o início do pensamento psicomotor e a valorização do indivíduo de maneira integral, dando sugestões para muitos outros estudiosos que se apropriaram de seus conhecimentos e contribuíram para o desenvolvimento desse pensamento.
Efetivamente, ao dar-se uma estrutura cognitiva à ação e a motricidade, a inteligência tem de coordenar a ação, de forma a acomodar-se ao objeto ou ao real. A criança, acomodando-se ao real e aos objetos, conhece-os, simboliza-os e pode representá-los. Mais uma vez, a motricidade é a estrutura de troca e de relação que permitirá à criança assimilar e acomodar-se ao real e aos objetos. O pensamento da criança é inteligente quando se apoia no real ou nos objetos, pois só pela ação e pela motricidade poderá assimilá-los e acomodá-los (FONSECA, 2008, p.84).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Depois de muita leitura e pesquisas com embasamento teórico, conclui que a Psicomotricidade favorece à criança uma relação consigo mesma e com o mundo que a cerca.
A Psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolvem a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. Por isso dizemos que a mesma é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. A estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de sua aprendizagem. O desenvolvimento evolui do geral para o específico; quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, em grande parte essas dificuldades estão no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. Daí a importância para a valorização do trabalho da psicomotricidade na escola
Também pude concluir que através das atividades que envolvem a psicomotricidade na Educação Física escolar, contribui melhor para o melhor conhecimento da criança, além de desenvolver cooperação, interação, socialização, significa recrear-se, porque é a forma mais completa que o indivíduo tem de comunicar-se consigo mesmo e com o mundo.
REFERÊNCIAS
AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. São Paulo: Manson, 1983.FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SBP. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Disponível em: www.psicomotricidade.com.br. Acesso em: fevereiro 2003.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. São Paulo: Edições 70, 1968.

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