sexta-feira, 16 de novembro de 2012

PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA



PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Helena Maria Ferreira

O presente artigo é uma pesquisa científica com bases teóricas acerca das dificuldades de aprendizagem e a intervenção psicopedagógica, buscando caminhos para compreender as formas de aprendizagem e meios para sanar essas dificuldades, tornando o educando uma pessoa mais feliz.
A partir dos anos de 1980, a Psicopedagogia veio resgatar uma visão mais abrangente e globalizante do processo de aprendizagem humana e os problemas decorrentes desse processo.
Não é fácil encontrarmos uma definição completamente clara e abrangente para explicar o que é “problema de aprendizagem”.
Segundo Sara Pain (1992, p.11), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação.
E à educação atribuímos quatro funções interdependentes: função mantenedora, função socializadora, função repressora e função transformadora. Sendo assim, o sujeito que não aprende, não realiza essas funções da educação. A psicopedagogia é a técnica de condução do processo de aprendizagem, levando a cumprir os fins educativos.
As perturbações da aprendizagem são aquelas que interferem nesse processo de aprendizagem impedindo ao sujeito usufruir de suas possiblidades cognitivas.
Nas dimensões do processo de aprendizagem observamos que o conhecimento é adquirido na formação hereditária, de acordo com o meio onde se vive e por meio de experiências vividas. E nessas três dimensões se completa a aprendizagem humana.
De acordo com alguns estudiosos, a aprendizagem humana é um processo integrado que provoca a transformação qualitativa na estrutura mental do sujeito que aprende. O ser humano já nasce com potenciais de aprendizagem e necessitam de estímulos internos e externos para o aprendizado.
O sujeito e o objeto não são dados como instâncias originariamente separadas. Pelo contrário, eles se discriminam justamente em virtude da aprendizagem e do exercício. À medida que exerce sua atividade sobre o mundo, o bebê pode construir apesar das transformações, objetos permanentes, entidades diferentes dele e idênticas  a si mesmas; por outro lado, tal atividade o define como agente e o determina, em primeiro lugar, pelo seu poder, como capacidade de ação. Portanto, podemos falar de condições externas e internas da aprendizagem apenas no sentido descritivo, já que nem sua genética na ação nem seu funcionamento dialético permitem a adoção do esquema estímulo-resposta que tal dicotomia sugere. (Pain, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Ed. Artes Médicas; Porto Alegre. 1992, p.21).

O problema de aprendizagem é considerado um sintoma, sendo que, não é um quadro permanente, podendo ser passível de transformação.
Podemos definir alguns fatores que interferem na aprendizagem que devem ser considerados no diagnóstico. São eles:
·        Fatores orgânicos;
·        Fatores específicos;
·        Fatores psicógenos;
·        Fatores ambientais.

a)      Os fatores orgânicos (fatores fisiológicos) - Estes sistemas são ligados ao sistema nervoso central. Quando sadio, possui ritmo, plasticidade e equilíbrio, garantindo harmonia nas mudanças. Porém, quando há lesões ou desordens corticais comprometendo assim, a aprendizagem (apraxias, afasias, certas dislexias).
b)      Fatores específicos – Estão intimamente ligados na área perceptivo-motora, e na lateralidade do sujeito. Esses transtornos aparecem no nível da aprendizagem da leitura e da escrita. Nestes casos o tratamento psicopedagógico alcança êxito, desde que seja diagnosticado corretamente esse transtorno de aprendizagem que se denomina como dislexia (dificuldade para aprender ler e/ou escrever).
c)      Fatores psicógenos  - Ligados à estruturação da formação da personalidade (Id, ego e superego). O fator psicógeno do problema de aprendizagem pode ser confundido com sua significação e o não aprender é constituído como inibição ou como sintoma. Um exemplo de problema de aprendizagem ligado a esse fator é a disortografia.
d)      Fatores ambientais – Estímulos que constituem a aprendizagem e o meio ambiente material do sujeito. O problema de aprendizagem se apresenta de acordo com a ideologia e valores do grupo ao qual está inserido.
À luz de várias contribuições, de diversas áreas do conhecimento como a Psicologia, Linguística, Psicolinguística, Sociologia, antropologia, a Psicopedagogia encontra diferentes abordagens para os problemas de aprendizagem.
Podemos destacar a contribuição de Emília Ferrero, seguidora do pensamento piagetiano, buscando novos caminhos e olhares para o entendimento da leitura e da escrita. Ela ainda contribui com as teorias desafiadoras de transformar o espaço de aprendizagem em um espaço construtivista. Onde, os “erros dos alunos” são transformados em objetos de construção do conhecimento.
Não desconsiderando o valor real dos testes diagnósticos de alguns problemas de aprendizagem, uma vez que Vygotsky através da teoria da zona proximal, onde o ambiente social das crianças é considerado e essa concepção, passa a ser um momento privilegiado no processo de desenvolvimento da criança. E podemos assim, apostar nas capacidades das crianças, considerando mais suas qualidades do que seus defeitos.
Visca (1991) concebe a aprendizagem como um processo com a interferência de aspectos emocionais, cognitivos, biológicos e sócias. Para ele, existem níveis de aprendizagem que iniciam com o nascimento e se estendem até à morte. Esses níveis são denominados: proto-aprendizagem, dêutero-aprendizagem, aprendizagem assistemática e aprendizagem sistemática.
a)      Proto-aprendizagem – Caracteriza-se pelos primeiros contatos com a mãe.
b)      Dêutero-aprendizagem – Caracteriza-se pelas relações da criança com os objetos e ambiente que a rodeiam.
c)      Aprendizagem assistemática e aprendizagem sistemática – Caracterizam-se pelas interações do indivíduo com a sociedade e com as instituições educativas.
Para Pain (1985), a aprendizagem depende da articulação de fatores internos e externos ao sujeito. De acordo com a autora a aprendizagem apresenta três funções: socializadora, repressiva e transformadora.
a)      Função socializadora – Submete-se às normas e regras identificando-se com o grupo social ao qual pertence.
b)      Função repressiva – Garantindo-se em sobrevivência ao sistema que rege a sociedade.
c)      Função transformadora – Permite ao sujeito uma participação na sociedade, na perspectiva de transformá-la.
Visca e Pain oferecem valiosas contribuições à Psicopedagogia por apresentarem uma concepção mais completa e abrangente do ser humano, evidenciando a necessidade multidisciplinar na ação psicopedagógica.
O processo de aprendizagem na abordagem de Piaget, com a teoria da equilibração, trata de maneira trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Considerado como um mecanismo regulador que assegura a interação eficiente do sujeito com o meio ambiente.
Piaget (1975) define que, o equilíbrio cognitivo implica afirmar a presença necessária de acomodações nas estruturas do cérebro. No processo de desenvolvimento, tal como é visto por Piaget, cada criança se desenvolve através de estágios. O autor distingue três estágios fundamentais:

a) Sensório motor – que vai do nascimento até os 2 anos de idade. Sendo que neste estágio a criança evolui no entendimento do mundo exterior em relação a si própria.

b) Operações concretas – estende-se dos 2 aos 11 anos de idade e subdivide-se em pensamento pré-operacional (de 2 a 7 anos) e pensamento operacional concreto. Concretiza-se na preparação e na realização das operações concretas em classes, relações e números.
c) Operações formais – de 11/12 até 14/15 anos. Período no qual o adolescente ajusta-se à realidade completa de sua atualidade, tornando-se capaz de lidar com o mundo das possibilidades.
Os períodos ou estágios da teoria de Piaget não constituem divisões arbitrárias do processo evolutivo. Cada um deles possui características mínimas que o define.
A teoria de aprendizagem de Jean Piaget alertou os educadores para o respeito ao estágio de desenvolvimento do pensamento infantil, adequando as atividades escolares às características evolutivas das crianças.
Os interacionistas Jean Piaget e Lev Vygotsky se tornaram expoentes referenciais na Pedagogia contemporânea.
Piaget acredita que a aprendizagem se dá através do desenvolvimento, minimizando o papel de interação social e Vygotsky privilegia o ambiente social como fator de desempenho da aprendizagem, apesar de acreditar que a construção do conhecimento e o desenvolvimento também têm participação no processo de aprendizagem.

          Para Vygotsky, a cultura molda o psicológico, determinando a maneira de pensar do sujeito. Pessoas de diferentes culturas têm diferentes perfis psicológicos. As funções psicológicas de uma pessoa são desenvolvidas ao longo do tempo e mediadas pelo social, através de símbolos criados pela cultura. A linguagem representa a cultura e depende do intercâmbio social. Os conceitos são construídos no processo histórico e o cérebro humano é resultado da evolução. As aprendizagens são construídas e internalizadas de maneira não linear e diferente para cada pessoa, onde o cotidiano está sempre em movimento e em transformação.
De acordo com Ferreiro, imaturidade, prontidão, habilidades motoras e perceptuais deixam de ter sentido isoladamente. Os aspectos motores, cognitivos e afetivos são importantes, à medida que são tratados no contexto da realidade sócio cultural das crianças. “Hoje a perspectiva construtivista considera a interação de todos eles, numa visão política, integral, para explicar a aprendizagem” diz Ferreiro.
As dificuldades de aprendizagem mais comuns são: a dislexia a disgrafia, a discalculia, a dislalia, a disortografia e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

a)      Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura. A criança faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, apresentando dificuldades para ler um texto fluentemente. Estudiosos afirmam a dislexia é causada por fatores genéticos, mas, ainda não foi comprovado pela medicina.
b)       Disgrafia: geralmente vem associada à dislexia, porque a criança faz trocas e inversões de letras e consequentemente encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal traçadas e ilegíveis e apresenta desorganização ao produzir um texto.
c)       Discalculia: é a dificuldade para cálculos e números. Geralmente os portadores dessa dificuldade não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los. Não compreendem os enunciados de problemas, não conseguem quantificar, comparar e consegue fazer sequências lógicas. Esse problema é um dos mais complexos e mais difíceis de diagnosticar.
d)       Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresentando pronúncia errada das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas. É uma dificuldade mais manifestada em pessoas com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino.
e)      Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e também pode manifestar-se como consequência da dislexia. As principais características da disortografia são: troca de grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação.
f)        TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, manifestando sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. É comum vermos crianças e adolescentes sendo rotulados como hiperativos. Por isso, é importante que esse diagnóstico seja feito por um médico neurologista e outros profissionais.
E ao decorrer das pesquisas, em uma abordagem geral, podemos traçar o somatório de todos os fatores que influenciam a aprendizagem, abrindo um leque de possibilidades de estudo para se diagnosticar os problemas de aprendizagem.
            E dentro da visão acadêmica atual, podemos classificar essas dificuldades de aprendizagem nos fatores: biológicos, sociais, psicológicos e fatores pedagógicos. E que cada um desses fatores é objeto de estudo de cada uma dessas áreas. Dá-se então, a importância de cada especialista para o atendimento da criança com dificuldades de aprendizagem.
Cada pessoa é única. Cada vida tem sua própria história. É preciso conhecer a criança e como ela aprende. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das queixas da escola, trabalhando com os erros e acertos, resgatando o desejo de aprender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.      FERREIRO, Emilia & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Artes Médicas, Porto Alegre, 1986.
2.      FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo. Ed. Cortez. São Paulo. SP.
3.      FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre.
4.      SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar – o problema escolar e de aprendizagem. Ed. Vozes. Petrópolis, 1994.
5.      PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1994.

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